Crônicas

Sororidade

Sempre me intrigou a falta de parceria entre elas, parceria essa que extrapola os limites quando se trata dos homens. A sororidade não é nada além do que a solidariedade umas com as outras, e é comum ser observada nos movimentos feministas.

Por: Marilene Depes em 14 de julho de 2021

Utilizo como título um termo pouco usado e que se refere a empatia entre as mulheres e o fim da rivalidade feminina. Sempre me intrigou a falta de parceria entre elas, parceria essa que extrapola os limites quando se trata dos homens. A sororidade não é nada além do que a solidariedade umas com as outras, e é comum ser observada nos movimentos feministas. Como também observo ser um sentimento raro entre mulheres que veem as companheiras como possíveis rivais, ou cuja segurança feminina depende da disputa em que as outras estejam numa situação inferior – ou de atrativos físicos, ou de capacidade intelectual ou até de honestidade.

E imbuídas do sentimento de sororidade por uma companheira chamada Mônica, que muitas de nós nem conhecíamos pessoalmente, numa sexta-feira pela manhã nos posicionamos defronte ao Fórum pedindo justiça – mulheres do Conselho de Direitos das Mulheres, da União Cachoeirense de Mulheres, familiares e amigas. Era o dia do julgamento do agressor de Mônica, que numa estrada escura e deserta a atacou com socos, chutes, puxões de cabelo e mordidas, quebrou seus dentes, além de ameaça-la de morte a cada momento. Sem muitos detalhes, ela só se salvou porque em local de algum movimento se atirou do carro, e consequentemente até hoje vive traumatizada, com danos psicológicos e muito medo. O agressor foi condenado com sentença a ser cumprida em regime aberto, e o que mais chocou no veredito é que o voto decisivo para tal foi de uma mulher. Até agora dois sentimentos me constrangem, não sei se o pior foi a condenação que liberou o réu da prisão, ou o fato de que tudo dependia de um voto feminino em favor da agredida, e esse não ocorreu.

to que merece destaque foi a fala de uma mulher em rede social afirmando que, um cidadão preso por estupro de vulnerável teria a vingança merecida na cadeia, onde ele viraria uma “mulherzinha” nas mãos dos outros presidiários. Espera aí, o que significa ser uma mulherzinha? Um ser disponível ao sexo seja lá como for, com quem for, um objeto à disposição insana dos prazeres alheios? Homem misógino já é um absurdo, agora suportar misoginia das próprias mulheres é intolerável! Somos maioria populacional, somos maioria nos cursos superiores, somos maioria de eleitoras, mas só sairemos ilesas desse sistema patriarcal, que nos oprime até hoje, quando as mulheres entenderem que se o machismo existe é porque os filhos são criados por mães também machistas, misóginas e sem nenhuma sororidade.