Crônicas

Tristeza e alegria

Infelizmente nós não temos representatividade que nos garanta efetivamente segurança e justiça em nossas reivindicações. A ministra da família e da mulher não nos representa e é apenas um nome que garante a estabilidade do governo.

Por: Marilene Depes em 16 de novembro de 2020

Em meio a triste audiência de júri, em que uma jovem esperava justiça e foi literalmente crucificada, não só pelo acusador, mas pelo juiz e por quem deveria ser o defensor, e em que o poder do patriarcado e o machismo mostraram suas faces mais funestas, e cada um cumpriu papel abjeto numa aliança espúria e vergonhosa para a justiça e para todas as mulheres, só tenho a lastimar.
Infelizmente nós não temos representatividade que nos garanta efetivamente segurança e justiça em nossas reivindicações. A ministra da família e da mulher não nos representa e é apenas um nome que garante a estabilidade do governo. A maioria das mulheres eleitas são filhas ou esposas de políticos consagrados, que em geral as colocam para continuarem seus projetos de poder, pois ao patriarcado convém mulheres teleguiadas e que respeitem a hierarquia.
O que aconteceu com a jovem Mariana na audiência acontece diariamente, só que dessa vez pudemos ter acesso as cenas de terror. Mariana foi submetida a uma série de humilhações, e usaram com ela a velha estratégia de transformar a vítima em culpada. E quando o advogado diz que não queria como filha um tipo de mulher como ela, no fundo ele quis dizer que não pensava o mesmo em relação ao estuprador. Para a cultura machista o estuprador é um macho alfa digno de respeito, afinal na cultura deles o desejo sexual do homem é digno de admiração. A cultura do estupro é corriqueira e nos países em guerra, as mulheres servem de pasto aos desejos dos “pobres soldados” que merecem o “troféu”, por conta da luta em que estão envolvidos.
Nunca houve tantos estupros em nosso país, e eles acontecem em sua maioria nos lares, exatamente o local mais sagrado de proteção das crianças, adolescentes e mulheres. Os homens se sentem ameaçados pelo poder que devagar as mulheres vão alcançando, e os machistas se sentem legitimados por quem está no comando e que só não estuprou porque a mulher não merecia. E o que mais me surpreende é a quantidade de mulheres que possibilitam a ascensão ao poder de homens com perfil machista, legalizando perfil idêntico aos demais. Me surpreendo com mulheres que não formam aliança em defesa das companheiras e julgam as vitimas na visão do patriarcado.
E minha alegria vem com a esperança da derrocada de líderes que simbolizam o retrocesso e a arrogância, como o que acabamos de assistir nos Estados Unidos. O vitorioso, Joe Biden, é um líder conciliador, e sua idade não preocupa, porque se não der conta, a vice Kamala Harris nos representa perfeitamente.