Crônicas

2020, o ano que não vivi

Assustei-me quando recebi a notícia que esta seria a última edição da Revista Leia no ano de 2020. Mas o ano passou e eu nem vi! De março a dezembro foram só atropelos, notícias ruins, perdas, medos, mortes, mais medo, enclausuramento, adiamentos, distâncias, carências.

Por: Marilene Depes em 20 de dezembro de 2020

Assustei-me quando recebi a notícia que esta seria a última edição da Revista Leia no ano de 2020. Mas o ano passou e eu nem vi! De março a dezembro foram só atropelos, notícias ruins, perdas, medos, mortes, mais medo, enclausuramento, adiamentos, distâncias, carências. Estou citando sentimentos gerais, fora os sentimentos difusos como a de consciência pesada por uma simples ida ao cabelereiro ou ao supermercado. A vida parou e tentar manter a serenidade foi uma luta constante, principalmente quando a ansiedade dos que estão ao redor te afetam profundamente.
Hoje sou capaz de afirmar que admiro profundamente quem está saindo deste ano incólume, com vida e integridade psicológica. A pandemia nos fez rever tantos valores que, ao fazer uma retrospectiva até nos admiramos. Consumimos muito pouco com itens pessoais, as roupas ficaram penduradas nos armários, as maquiagens nas gavetas, as bijuterias nas caixas, prá que tanta coisa sem ter prá onde ir? Penso que nesse quesito de consumismo nunca mais seremos os mesmos. No entanto as pessoas passaram mais a valorizar suas casas, o aconchego do lar se tornou primordial – minha casa, meu refúgio. Quanta gente começou a cozinhar e quantas mais entenderam o valor do trabalho doméstico, a partir do momento que ficaram frente a frente com ele, e diariamente.
A vida tornou-se mais simples, muitas reuniões foram suprimidas, muitas simplificadas e muito se economizou com saídas, festas, encontros, enfim conseguiu-se perceber que se consegue sobreviver com o mínimo e que corre-se riscos só em pensar no retorno à normalidade. Foi um ano de pouca convivência com familiares, amigos, e vai-se guardando e aguardando os sentimentos para o tempo adequado. As redes sociais são a válvula de escape para o bem e para o mal, pois nelas tanto podemos nos comunicar com quem nos é valioso, quanto podemos tomar conhecimento das desgraças que se avolumam, e muitas vezes até com exagero.
Enfim, neste ano atípico, valorizo muito os que estão conseguindo sobreviver apesar de todas as dificuldades, ao pessoal da saúde que com heroísmo salvam as vidas, aos psiquiatras e psicólogos que mantém a nossa lucidez, aos professores que continuam ensinando, aos empresários que lutam contra as adversidades, aos jornalistas que nos mantém informados, aos padres e pastores que apoiam espiritualmente, a todos desejo um final de ano de muito amor e paz. E aguardemos o ano novo e a vacina que nos trará um novo alento!