Beleza
A acne adulta cresce e se agrava durante a pandemia
Efeito colateral à pandemia de covid-19, a acne adulta, incômodo estabelecido para muitas mulheres acima dos 25 anos, agora ganha um holofote maior e atinge ainda mais gente. Afinal, é pela superfície que o corpo revela o que não anda bem por dentro.
Por: Redação em 2 de junho de 2021
Rotinas alteradas de alimentação, sono e trabalho, crises de ansiedade, uso constante de máscaras de proteção e fadiga mental e física causam uma mudança de funcionamento do organismo. O resultado é, literalmente, sentido na pele. Efeito colateral à pandemia de covid-19, a acne adulta, incômodo estabelecido para muitas mulheres acima dos 25 anos, agora ganha um holofote maior e atinge ainda mais gente. Afinal, é pela superfície que o corpo revela o que não anda bem por dentro.
Em condições normais, a acne adulta surge, sobretudo, em mulheres que passam por mudanças hormonais drásticas, como no pós-parto, ou em fases de atividades intensas na carreira. Um estudo do The New England Journal of Medicine de 2018 aponta que 25% das mulheres, em escala mundial, têm acne por volta dos 40 anos. Depois de mais de um ano de vida em isolamento social, no entanto, esse quadro tem se agravado ainda mais. “O estresse faz com que o organismo libere o hormônio cortisol, que, disponível em grande quantidade no corpo, é responsável por gerar um quadro inflamatório, proporcionando o surgimento de mais espinhas. Logo, quem já sofre com a acne adulta terá um efeito mais potente em um estado emocional mais fragilizado”, explica Daniel Coimbra, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa do Rio de Janeiro. “Temos que considerar que o tempo prolongado de uso da máscara facial sem alguns cuidados específicos pode colaborar para a piora do quadro inflamatório da acne adulta”, sinaliza o dermatologista.
Um estudo publicado pela American Academy of Dermathology em 2020 apontou que 83% dos profissionais que trabalham na linha de frente da covid-19 apresentaram acne na região inferior do rosto. De acordo com Daniel, a umidade constante durante o uso prolongado da máscara, o uso simultâneo de maquiagem ou a falta do ritual correto de limpeza são instrumentos que favorecem o surgimento das espinhas ou, ainda, contribuem para agravar o quadro inflamatório. Segundo ele, o ideal é trocar a máscara a cada três horas de uso contínuo e manter em dia a higiene nas versões de tecido.
Aqui cabe um alerta. Os cuidados são simples e importantes para evitar o agravamento dos quadros de acne, já que o uso da máscara de proteção é inegociável e ainda deve acompanhar a população mundial por certo tempo. “Temos que tomar cuidado ao falar do uso de máscara e acne, pois não é possível considerar a hipótese de não usá-la no dia a dia, quando se sai à rua. O que se deve entender, nesse caso, é como minimizar os impactos do seu uso em peles mais sensíveis e propensas à acne”, elucida Maíra de Magalhães Mariano Astur, dermatologista e médica-chefe do Ambulatório de Cosmiatria da Unifesp.
Outra questão que tem ajudado a evidenciar os casos de acne adulta é que, por motivos óbvios, a frequência de consultas e tratamentos dermatológicos caiu durante o período de isolamento social. Com isso, o problema, que nasceu durante a pandemia, tende a ser tratado com soluções caseiras, com produtos aleatórios, que não foram indicados especificamente para o caso, ou ainda aplicados em frequências e quantidades equivocadas. “O uso de produtos sem recomendação médica e que não são indicados para pele oleosa pode agravar a situação, causando um estímulo ainda maior na produção de sebo”, sinaliza Maíra da Matta, diretora-geral da La Roche Posay, marca de dermocosméticos que concentra boa parte de seu portfólio em produtos para o equilíbrio da pele sensível.
Outra questão que tem ajudado a evidenciar os casos de acne adulta é que, por motivos óbvios, a frequência de consultas e tratamentos dermatológicos caiu durante o período de isolamento social. Com isso, o problema, que nasceu durante a pandemia, tende a ser tratado com soluções caseiras, com produtos aleatórios, que não foram indicados especificamente para o caso, ou ainda aplicados em frequências e quantidades equivocadas. “O uso de produtos sem recomendação médica e que não são indicados para pele oleosa pode agravar a situação, causando um estímulo ainda maior na produção de sebo”, sinaliza Maíra da Matta, diretora-geral da La Roche Posay, marca de dermocosméticos que concentra boa parte de seu portfólio em produtos para o equilíbrio da pele sensível.
De olho no prato
A alimentação é um dos pontos que devem ganhar atenção quando o assunto é acne adulta. Ainda mais em tempos de estresse emocional alto, é comum que haja uma recompensa imediata de satisfação e prazer com alimentos ricos em açúcares e gorduras trans. E a dieta à base de alimentos com carboidratos de alto índice glicêmico promove a produção excessiva de insulina. “A insulina é um hormônio que, quando em desequilíbrio no organismo, reflete em uma pele mais oleosa. Com isso, há uma propensão maior para quadros de inflamação que desencadeiam um maior volume de acne na fase adulta”, explica Natália Barros, nutricionista especialista em saúde feminina, mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com aprimoramento em Nutrição Humana e Metabolismo pela Stanford University, nos Estados Unidos.
Segundo ela, pessoas que consomem muitos alimentos processados, como massas com farinhas refinadas, margarinas, refrigerantes, biscoitos e sucos industrializados, tendem a desenvolver um processo inflamatório no organismo que resulta, inevitavelmente, em efeitos na pele. Até mesmo o consumo de leite e laticínios desnatados pede cuidados, já que esses alimentos passam por uma transformação na hora da retirada da gordura natural, gerando em alguns casos uma resistência do organismo na sua digestão. “O ideal é ter uma alimentação que seja rica em frutas, legumes, verduras escuras e carnes brancas. Esses alimentos ajudam no funcionamento do organismo como um todo, sem provocar estado de desarmonia”, sinaliza.
De acordo com a dermatologista Juliana Toma, de São Paulo, é muito comum pacientes não verem melhora no quadro de acne adulta mesmo seguindo à risca o tratamento prescrito pelo simples fato de manterem uma alimentação ruim. “A qualidade dos alimentos é primordial para a saúde da flora intestinal, assim como para a produção de hormônios de forma equilibrada. Ao desregular a produção de hormônios andrógenos, as dietas ricas em açúcar e alimentos gordurosos são incentivadoras da secreção sebácea, o que consequentemente piora a acne”, endossa.
Juliana chama atenção ainda para os momentos de indulgência em tempos de pandemia e pedidos de comida via aplicativo em excesso: “É muito comum perder o controle da alimentação com tantas facilidades na palma da mão. Mas não é possível ter uma pele saudável somente com tratamentos cosméticos. Comer bem é uma questão primordial no processo de combate às espinhas”, conclui.