Crônicas

A voz do povo

Desde muito jovem tinha um encantamento pelos slogans de campanha eleitoral. Por mais que a pessoa fosse preparada intelectualmente – e aqui uso um termo habitual à época – “fulano é muito preparado”.

Por: Wilson Márcio Depes em 11 de abril de 2022

Desde muito jovem tinha um encantamento pelos slogans de campanha eleitoral. Por mais que a pessoa fosse preparada intelectualmente – e aqui uso um termo habitual à época – “fulano é muito preparado”. Funcionava mais ou menos assim: “Dr. Medeiros é muito preparado”, “o professor Waldemar Mendes é muito preparado”. Foi assim até que entendi que preparado queria, e ainda quer dizer, a rigor, “culto, estudioso”. Mas essas pessoas “preparadas” precisavam vir até o povo para organizar os slogans que vendesse a imagem de seu candidato. Aliás, “simples” assim… Ou não.
Era muito jovem quando um candidato aqui de Guaçuí, fazendeiro, bem do interior, chamado Francisco Lacerda de Aguiar, O Chiquinho, venceu a oligarquia dos Lindenberg e Santos Neves, com o slogan – popularíssimo – “Chiquinho vem aí”. E rolava na Rádio Cachoeiro, que tinha um grande alcance à época, com um programa político comandando pelo prof. Deusdedith, ampliou o prestígio de Chiquinho. O slogan pegou. Com o jingle: “Chiquinho vem aí/ Chiquinho já ganhou/ O povo quer Chiquinho/ Pra governador”. Tudo muito simples e o povo todo cantando. Foi a derrubada a oligarquia das famílias importantes no estado, que o dominava. Claro que não estou aqui fazendo um estudo político-sociológico. Apenas um registro pré-eleitoral.
Achava eu, àquela época, que slogan era mais importante que ideologia. Depois, lembro-me bem, Jânio Quadros, ostentando uma “vassoura” que varreria a sujeira do país. Varreu, levou, mas renunciou à presidência. As histórias são muitas. E vale a pena relembrar. “O tostão contra o milhão”. Campanha de Jânio Quadros a Prefeito de São Paulo”. “Trabalhador vota em trabalhador”. Texto adotado pelos candidatos do PT. Lembro-me muito bem, por associação de ideias, de “Rouba, mas faz” (Ademar de Barros/Paulo Maluf). Esse foi um slogan popular, que surgiu em épocas distintas para os dois candidatos. E mais: “Dos males o menor”. Campanha de Muniz Freire – ES. O anão Celinho. – Candidato Vereador. Por aqui, lembro do candidato a deputado “Mário Sempre Teu”. Que era de Rio Novo do Sul. Esse slogan rodou muitas campanhas. O candidato a vereador Adail Raimundo: “O Macaco tá certo”, personagem do programa de Jô Soares. Raimundo Andrade, prefeito, “o realizador”. Mas, diante de tudo isso, Fulica, famoso pelos objetos de cerâmica que fabricava e personagem de meu livro de Fotocrônicas – resolveu resumir tudo, quando candidato a vereador: “Ora, Titica por Titica, vote no Fulica”. Não venceu a eleição. Ironia do destino.