Crônicas

Aforismo

E, é minha ambição dizer em dez sentenças o que todos os outros dizem em um livro inteiro – o que todos os outros não dizem em um livro inteiro.

Por: Sergio Damião em 28 de janeiro de 2020

São frases, curtas ou longas, de grande sabedoria. Nietzsche, em Humano, demasiado humano, considera: “Os piores leitores são os que se comportam como soldados em pilhagens: pegam algumas coisas que podem usar, sujam e misturam o restante e caluniam o todo.” Dizia: no aforismo, tem-se, geralmente, a verdade. E, é minha ambição dizer em dez sentenças o que todos os outros dizem em um livro inteiro – o que todos os outros não dizem em um livro inteiro. Parece como ele, uma dinamite. Mas, ninguém quer ouvir a verdade. Preferimos o autoengano. O escritor argentino, Jorge Luiz Borges, pensou: “Se eu pudesse viver outra vida…” Um alerta para o racionalismo, mecanicismos e consumismo. “Aí está o busílis!” Nos sermões de Vieira (Padre Antônio Vieira, 1608 – 1697, português, viveu na Bahia) aprendemos: “Morrer de muitos anos, e viver muitos anos, não é a mesma coisa. Ordinariamente os homens morrem de muitos anos, e vivem poucos. Por quê? Porque nem todos os anos que se passam, se vivem: uma coisa é contar os anos, outra vivê-los; uma coisa é viver, outra durar… Mais vivem uns em poucos anos, que outros em muitos.” Padre Vieira em seus sermões certamente concordaria com os dizeres atribuídos aos romanos: “Não basta ser honesto, tem que parecer honesto.” Uma boa citação para os nossos representantes em Brasília. Na profissão médica, desde o início da Idade Moderna, com os filósofos Descartes e Pascal, o dualismo existe. A dúvida entre a ciência e o sentimento – dimensão afetiva. A medicina cartesiana, o corpo dividido em partes – como uma máquina, influenciou a prática médica americana e ocidental. Surge a ideia pascaliana, o filósofo acrescentava: “O coração tem suas razões que a razão não conhece.” Com isso podemos lembrar o aforismo hipocrático: “Curar quando possível; aliviar quando necessário e consolar sempre.” Quando abro um livro e me encontro com a leitura, é como se um espanhol descobridor e explorador de uma cidade rica em prata da região dos Incas dissesse: A leitura… “Vale um Potosi.” Acho que Nietzsche tinha razão, pois continuamos os mesmos: “A pressa é universal porque todos estão fugindo de si mesmos.” Pedia, em A gaia ciência: “Torne-se quem você é.”