Crônicas

Avenida Pelegrino

Sinto falta da Pelegrino. Dos seus últimos dois quilômetros, da Vila Olímpia até o Parque do Ibirapuera, mais ainda. Arborizada. Edifícios, maioria moradia, de arquitetura instigante.

Por: Sergio Damião em 1 de junho de 2020

Sinto falta da Pelegrino. Dos seus últimos dois quilômetros, da Vila Olímpia até o Parque do Ibirapuera, mais ainda. Arborizada. Edifícios, maioria moradia, de arquitetura instigante. Um contraste com a Avenida Santo Amaro que a cruza em seu início. Caminhar ou pedalar pela Pelegrino sempre foi um alento. Aos domingos, parte da avenida era ocupada por faixas de ciclovias. Homens e mulheres, adultos e crianças, com bicicletas de diversos tipos e roupas de diferentes cores alegravam e coloriam a Avenida. São Paulo, no outono, de temperatura amena, oferece o Parque Ibirapuera. Pela Pelegrino, antes do parque, encontra-se o bairro Moema e suas ruas com nomes de índios e pássaros brasileiros, lembra a diversidade do Brasil tropical, uma prova de bom local para se viver, apesar do imenso concreto das cidades. O paulistano se realiza no Ibirapuera. Um imenso parque no centro da capital. A melhor maneira de conhecer o parque é iniciar pelo portão 6. Nesta entrada, os gramados apresentam-se perfeitos. Grupos se formavam de crianças, adultos e idosos. O grupo de capoeira se destacava com suas vestes brancas e sua dança e gingado. Um respeito ao corpo e espírito. Dentro do parque caminhava-se em torno do lago. Observar os prédios que se sobressaem acima das árvores é a mesma sensação dos parques do centro de Nova York. Nunca pensei que sentiria falta de caminhar pela Pelegrino, descer por suas ladeiras, observar suas árvores, prédios… Era algo natural, como respirar, sem esforço, bastava uma viagem de poucas horas. A pandemia do Covid-19 limitou a locomoção e nos tirou a liberdade: nosso bem maior para se viver em uma cidade. Força novos hábitos. Não temos saída, mais de 80% da população vive e viverá em uma cidade. Porém, podemos viver com milhões de pessoas. Podemos nos encontrar em qualquer ponto do planeta. Mas, gradativamente, voltamos ao nosso bairro, nossa rua, residência, quarto e computador. Sozinhos, dentro de nós mesmos. Voltamos ao nosso espaço. Aos conflitos internos. Nossas angústias, medos, egoísmo e agressividades. Conviver, seja em uma pequena ou grande cidade, dependerá desses acertos. A beleza de uma cidade sempre será encontrada. Em uma grande Avenida ou pequena rua.