Crônicas

Colocando os pontos nos is

Numa segunda feira acordamos com a informação do desaparecimento de Roseli Valiati Farias, funcionária da Grafband. Ela era exemplar em seu trabalho, no atendimento aos clientes, eu entre eles, e não tinha o hábito de faltar ao serviço em quase 20 anos na empresa.

Por: Marilene Depes em 3 de novembro de 2021

Numa segunda feira acordamos com a informação do desaparecimento de Roseli Valiati Farias, funcionária da Grafband. Ela era exemplar em seu trabalho, no atendimento aos clientes, eu entre eles, e não tinha o hábito de faltar ao serviço em quase 20 anos na empresa. Quando encontraram seu carro tive um pressentimento ruim, que infelizmente foi confirmado. A morte de uma mulher mata cada uma de nós, e quem é mãe e avó morre ainda mais pela preocupação com filhas e netas. Pessoas próximas sabiam da vontade dela de por fim ao relacionamento, e a declaração do assassino de que a morte foi causada pela insistência dela em manter a relação não se adéqua ao perfil do machista. Em todos os casos de feminicídio nunca vi situação idêntica, homem mata porque não aceita a perda do seu objeto de posse, como não compreendo como alguém dorme durante um conflito de relação, ou mesmo durante um jogo do Flamengo, só dopada. Dopada ou morta à queima roupa. Triste Brasil em que posse de armas é política de governo, resultando em psicopatas armados e soltos pelo país afora.
Só que o calvário não finalizou aí para familiares, amigos e gente consciente. Ouvi muita barbaridade, julgamentos à vítima vindo de mulheres que esquecem que podem ser as próximas, de outras que são mães, de algumas que frequentam igreja e não assimilaram a misericórdia divina e de muitas que se acham acima de qualquer risco, esquecendo-se que a maioria dos feminicídios ocorre dentro da própria casa da vítima, causado pelo marido ou companheiro, e até diante dos filhos. No Espírito Santo já foram assassinadas 78 mulheres até setembro deste ano.
E entre tanta barbaridade um advogado publica que as vítimas são culpadas por procurarem romances em redes sociais e por se exporem. Deixo claro aqui em letras maiúsculas: A VÍTIMA NUNCA É CULPADA! Não existe pacto machista que modifique esse fato. E mulheres apoiando a opinião do cidadão, eis a indignação maior. Quando as mulheres vão compreender que quando morre uma, morremos todas! No recôndito do lar, na casa do namorado, na igreja, na porta da faculdade, no bar, não há um terreno delimitado para se praticar o feminicídio. Todas nós corremos riscos, e não existe justificativa para tamanha crueldade. O advogado Dr. Wilson Marcio Depes foi claro e objetivo em sua colocação nas redes sociais, “tipificando o crime como hediondo, assassinato bárbaro, assassino frio que tira a vida de uma mulher de bem e choca profundamente a opinião pública”, felizmente uma das inúmeras vozes lúcidas e mais valiosa ainda por partir de um homem que não busca causas, apenas coloca os pontos nos is.
Parem de nos matar! Somos todas Roseli!