Crônicas

Contos e poesias

Na pandemia dos nossos tempos, séc. XXI, do novo coronavírus (Covid-19), procuro ocupar o tempo com exercícios para a mente e o físico.

Por: Sergio Damião em 25 de maio de 2020

Na pandemia dos nossos tempos, séc. XXI, do novo coronavírus (Covid-19), procuro ocupar o tempo com exercícios para a mente e o físico. Afinal, além da atividade muscular, necessitamos do cognitivo saudável. Realizo os exercícios na sala de estar, em frente à televisão. Uso pesos, elásticos e abdominais. Acompanho melodias de tempos atrás. Ouvi Little Richard, o criador do rock and roll. Timidamente dancei Tutti Frutti, retornei à adolescência e aos meus cabelos que se assemelhavam ao black-power. Para o exercício da mente, deixo espalhados os livros, jornais e revistas na varanda do apartamento. Sempre me atraiu o texto curto. Na narrativa curta em que a essência dos conflitos humanos são desvendados com maestria por Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Anton Tchekhov, Guy Maupassant… Li o conto: O relógio de ouro, de Machado de Assis. No desenrolar do pequeno texto: mistérios e dúvidas de uma traição amorosa. Os personagens Clarinha e Luis Negreiros se antecipam ao romance Dom Casmurro de anos depois. Interrompo a leitura, Fabiola me chama para o café da tarde. Após o café, aponta para a pia da cozinha e divide as tarefas de limpeza. Abro a torneira, escorro a água e retiro os resíduos da faca, colher e garfo. No momento em que a água escorre, pareço anestesiado. No dia seguinte, na segunda cedo, retorno ao hospital. Ouço Drummond: “Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo…” Volto aos talheres e xícaras, esfrego a bucha e o detergente. Busco os clássicos para entender a melancolia que me invade: “Um tipo de loucura sem febre, tendo como companheiros o temor e a tristeza sem nenhuma razão aparente.” Seco a pia e a bancada. Com esmero deixo bem seco, reluzindo. Os instantes vão se alternando entre a melancolia e esperança. Instantes, apenas isso. Logo, as noticias pelo WhatsApp são alvissareiras. Em São Paulo, em vídeo, Bernardo carrega uma revista, nela eu me encontrava, pela sala do apartamento ele procura a mãe e diz: vovô Sergio! Na alegria da postagem do WhatsApp esqueci o medo de fim de tarde. Terminei o domingo invadido pela alegria dos dois anos de Bernardo e a paz dos poucos dias de vida do João Vitor.