Crônicas

Despedida

Em um determinado dia, tudo vira nada. A casa sempre muito bem cuidada, cheia de tapetes, enfeites, flores...

Por: Janine Bastos em 11 de julho de 2022

Em um determinado dia, tudo vira nada.
A casa sempre muito bem cuidada, cheia de tapetes, enfeites, flores…
Os compromissos, os horários, responsabilidades.
O jeito, o como, o que era importante para o outro, o outro…
…Tudo passa.
Vira lembrança!
É conduzido do plano real. Para o plano das lembranças, da imaginação, da gratidão, afinal foi ali, naquele ensopado de de gostos, ideias, ideais, valores, que nos constituímos.
Dizer que vira nada, não seria real, mas sim ganha vida em outro plano, no plano das memórias e dos sentidos.
O concreto talvez seja vendido, alugado, dividido, nos será incorporado e impactado de novas formas, que não o até hoje conhecido.
O que era até hoje conhecido, se desfaz, desmorona e dá lugar a este novo, na verdade a este grande vazio.
É a partir deste vazio que serão construídas novas histórias, mas por hora, ele segue sendo um caldo, marinado de valores, lembranças e experiências, que nos impactaram e nos fizeram sentir, e se nos fez sentir, fez sentido.
O vazio do que já foi concreto e hoje já não é mais, nos é percebido, através da tristeza, é ela quem nos afeta, na verdade o incomodo o desconforto que o vazio nos causa no corpo, no peito e na lentidão dos desejos e ações, no quitamento, é o que sentimos e entendemos como tristeza.
Hoje sei que ela é sábia, ela nos chama para dizer o que precisa ser visto, visitado ou revisitado. Ela vem para mostrar o real sentido e valor das relações e das pessoas importantes em nossas vidas.
E uma vez sentida, agradeço, me despeço e lentamente vou me autorizando a voltar a viver, e escrever assim no vazio, novas lembranças, experiências, valores e relações, sejam elas com velhas ou novas pessoas, mas sem dúvida com novos significados.
Para que possamos aprender a viver como quem sabe que vai morrer ou perder alguém um dia, e ao morrer que tenhamos a dignidade de o fazer, como quem soube de fato viver.