Crônicas

Desrespeito evidente

Vamos aos fatos: no ano de 2020, por conta da pandemia, os idosos foram desobrigados de fazer a prova de vida nos Bancos em que recebem seus benefícios e aposentadorias do INSS.

Por: Marilene Depes em 31 de maio de 2021

A partir do Estatuto do Idoso, promulgado em 2003, os idosos têm seus direitos protegidos e naturalmente respeitados. Essa é a teoria, o que está acontecendo na prática é diferente. Vamos aos fatos: no ano de 2020, por conta da pandemia, os idosos foram desobrigados de fazer a prova de vida nos Bancos em que recebem seus benefícios e aposentadorias do INSS. Tal recomendação persistiu até este mês de maio, quando a imprensa divulgou que os idosos teriam que se apresentar nos Bancos para atualizar a prova de vida, ou fazê-lo entrando no site do Meu INSS, pois os pagamentos serão bloqueados a partir de junho.
Como responsável por muitos idosos da Vila Aconchego, me encarrego de resolver essas questões. Para evitar tira-los da segurança, tentamos durante alguns dias realizar a atualização pelo Meu INSS, e não conseguimos. Entramos em vários portais e sempre dava erro. Fomos nos estressando, pedi ajuda às assistentes sociais da Prefeitura e elas também estão tendo dificuldades em acessar, realizar e concluir a tal prova de vida. Que nem sei porque é necessária, já que ao entregar o atestado de óbito no Cartório, este imediatamente comunica ao INSS.
Nos anos anteriores eu levava os idosos de carro até a porta dos bancos, encaminhava os documentos a um funcionário e este vinha até o carro confirmar se o idoso estava vivo. O que eu já considerava desumano para aqueles com a saúde debilitada, cadeirantes ou acamados. E neste ano me deparo com nova dificuldade, na agência do Banco Itaú, por medida de segurança, os funcionários não podem ir até o carro. Tive que adentrar ao Banco com duas idosas de mais de noventa anos, ambas cadeirantes e uma tão debilitada que não conseguia se manter sentada, sendo que ainda estamos no meio de um pandemia. Assisti uma família arrastando seu idoso do carro até o caixa, e não testemunhei mais situações constrangedoras porque lá só permaneci o suficiente. Importante destacar que a Caixa Econômica e o Banestes mantém as normas dos anos anteriores.
Presido o Conselho dos Direitos dos Idosos, sou uma pessoa com algum conhecimento, imagine a situação dos idosos carentes ou das periferias, com dificuldade de locomoção e de acessar a internet? Tenho certeza que meu clamor é o de milhares de idosos por esse Brasil afora, passando por situação idêntica. Pelo Conselho vamos nos manifestar à todos os órgãos de direito. É desrespeito demais com quem merece todas as benesses, respeitar os idosos é uma questão de humanidade e de direito. E em tempo, tomei conhecimento que o INSS prorrogou o prazo da prova de vida para junho, o que não muda nada.