Crônicas

Elas decidem

Utilizo a manchete da revista Carta Capital para o título acima. Segundo a matéria as mulheres estão garantindo a derrota de quem as tripudiou, e muitas vezes, de forma desumana.

Por: Marilene Depes em 8 de agosto de 2022

Utilizo a manchete da revista Carta Capital para o título acima. Segundo a matéria as mulheres estão garantindo a derrota de quem as tripudiou, e muitas vezes, de forma desumana. A história não nos deixa mentir nem exagerar, a queda de Collor de Mello foi impulsionada pela juventude, os “caras pintadas”, que através de manifestos nas ruas pediram sua destituição. Agora é a vez das mulheres, que só “nascem fruto de uma fraquejada”, que são declaradas “fornecedoras” entre os homens “consumidores”, que só não são estupradas porque são feias, que são consideradas burras, incompetentes e que devem ganhar menos que os homens porque engravidam. E que vão sendo trocadas por outras mais jovens à medida que vão envelhecendo, tudo isso em nome da “família brasileira”.
Colocar mulher à frente para convencer outras mulheres é puro marketing de campanha, não fomos atendidas na indicação de uma mulher capaz e que bem nos representasse no Ministério da Mulher, ocupado por líder de um grupo religioso obediente as normas específicas da fé. As mulheres brasileiras possuem vários segmentos, são católicas, agnósticas, espiritualistas, umbandistas, são mães solteiras, são arrimo de família, são feministas, são donas do próprio corpo, são o que quiserem ser, seguindo ou não um dogma, mas principalmente são livres para decidirem quem bem as representem.
Tenho receio de quem utiliza a Bíblia como mote de campanha, assim como os neo supostos convertidos que usam o nome de Deus em proveito próprio. Liberdade religiosa é direito inalienável e somos livres para exercê-la como cidadãos. Fora das igrejas a lei que rege o Estado é a Constituição.
Tenho receio de quem desrespeita a raça que ainda sofre discriminação neste país, “adolescente quilombola pesa em arrobas e negro não serve nem para procriar”. De quem desconhece a delimitação das terras indígenas, exatamente dos verdadeiros proprietários do solo antes da colonização. De quem promove a desvalorização dos estudos e das ciências retirando verbas das universidades. Quem ignora que a ideologia de gênero não influencia o que é orientação e não opção, e desrespeita acintosamente os LGBTQIA+ ao declarar que educou seus filhos muito bem para serem homens.
Não sou analista política, cito o que me dói na carne, franqueza e grosseria não se justificam num chefe de estado. Mulheres, LGBTQIA+, negros, indígenas e jovens têm a oportunidade de mudar a história do país.