Crônicas

Éramos sete

Meus pais tiveram sete filhos, quatro mulheres e três homens, eu a mais nova e temporã. Ser a última tem suas vantagens e desvantagens, sendo que a mais triste é assistir à passagem de todos, ir perdendo um por um, pais e irmãos.

Por: Marilene Depes em 25 de janeiro de 2023

Meus pais tiveram sete filhos, quatro mulheres e três homens, eu a mais nova e temporã. Ser a última tem suas vantagens e desvantagens, sendo que a mais triste é assistir à passagem de todos, ir perdendo um por um, pais e irmãos. E maior a dor quando perdemos aqueles com as quais temos muita afinidade e amor.

Minha empatia e identidade era exatamente com minha irmã mais velha, aquela que me acolheu quando criança, em cuja casa eu passava as férias. Havia entre a casa dos meus pais e a casa dela uma matinha que tínhamos que atravessar e no seu trajeto eu imaginava adentrar ao paraíso. Minha irmã era muito acolhedora, recebia em sua casa todos os familiares e amigos, era excelente cozinheira e seus quitutes inigualáveis – o frango caipira com angu baiano minha maior preferência. Lembro-me de um pudim de queijo e outro de laranja com uma parte solada que somente ela fazia igual. Em sua casa havia sempre uma lata mágica de onde brotavam delícias, tais como biscoitos, cavacos, rosquinhas e muito mais. E na geladeira deliciosos doces em calda, mamão, jenipapo, laranja e de figos, o meu preferido. O jardim da sua casa pode ser comparado a um pedaço do paraíso, de tão lindo e repleto de flores. Minha irmã amava as plantas e os animais, e dela herdamos esse amor à natureza.

Mas a alegria e o bom humor eram suas principais características, uma pessoa agradável e que levava a vida com leveza. Habitualmente não reclamava e agradecia por tudo que recebia, até por uma visita. Exímia artesã do crochê, raramente a encontrávamos de mãos vazias, sempre estava produzindo e suas filhas não deixavam faltar material de trabalho, o que a fazia sentir-se útil.Tinha turmas, a de hidroginástica e da terceira idade, e praticou caminhadas até o fim. Era festeira, adorava uma festa e seus aniversários sempre foram comemorados com muita alegria. E era responsável por uma data especial em nossa família, o Dia da Papa, quando nos reuníamos alegremente em torno das panelas, todos dando sua contribuição sob a coordenação da matriarca.

Entre tantas qualidades o acolhimento se sobressaia, sou eternamente grata pelo apoio que me deu com meus filhos, pelo amor demonstrado aos meus netos e pela vida que desfrutamos juntas. Meu filho bem a descreveu: “Tia Dendé foi um dos pilares da minha infância, tenho gratidão eterna pela pessoa carinhosa, amorosa e bondosa que ela foi. Se o mundo tivesse mais tias Dendés certamente seria muito melhor”! E assim me despeço da minha querida irmã.