Cultura
Escritora capixaba Jeovanna Vieira lança livro de poemas na FLIP
A obra, composta por 39 poemas, tem vocação para diário de bordo de quem empreende grandes cruzadas, explorando sobretudo as paisagens internas
Por: Redação em 22 de novembro de 2023
“Deserto sozinha” é o primeiro livro de poemas da escritora Jeovanna Vieira e a autora escolheu um dos mais representativos eventos culturais do país – a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), para lançar a obra, em eventos do dia 22 a 26 de novembro. A publicação da editora capixaba Pedregulho tem a tela da artista carioca Julia Debasse como capa e disparador para o livro cujo tema é a “inadequação”.
Em Paraty, Jeovanna Vieira participa das programações das casas Gueto, Philos e Poéticas Negras. Na baía de Paraty, a bordo do saveiro do Professor Johannes Kretschmer (UFF), a escritora vai participar do Sarau no Mar. Para a leitura de “Deserto”, convidou a poeta carioca Juliana Krapp, autora de “Uma volta pela Lagoa” (Círculo de Poemas), de quem também lerá os poemas lançados em julho deste ano.
O poema secreto
Evento proposto pela escritora capixaba, “O poema secreto” é um evento colaborativo que vai reunir cerca de vinte poetas que lançaram recentemente ou estão lançando livros de poemas na FLIP. “Joguei a ideia para os autores e os contornos da ação foram sendo dados pelos participantes. São autores de todas as regiões do país. Poetas são sempre independentes é um pré-requisito”, brinca.
“A gente só sabe que vai trocar livros e ler poesias um do outro tirando o papelzinho, como nos amigos secretos. O resto vamos descobrir na hora”, diz Jeovanna. A escritora defende que é importante a poesia ir para a rua, ocupar as praças, trazer para a Festa Literária um pouco de anarquia.
Deserto sozinha
A obra, composta por 39 poemas, tem vocação para diário de bordo de quem empreende grandes cruzadas, explorando sobretudo as paisagens internas. É possível acompanhar a personagem-narradora nascer, manobrar o tempo, percorrer territórios — sempre em busca de perguntas —, tendo a insatisfação como bússola. O maior elogio à qualidade literária de Jeovanna Vieira é observar como ela transforma qualquer leitor em passageiro de suas próprias agonias.
“No deserto, a solidão permeia tudo. Mas a solidão de Jeovanna não se restringe ao deserto. O deserto de Jeovanna não se restringe à solidão. A poeta se identifica, acima de tudo, pela inadequação, aquele sentimento responsável por nos fazer sozinhas, ainda que acompanhadas. Sozinha e inadequada, o eu lírico (que neste livro, sem dúvida, é uma mulher) percorre espaços inóspitos, sejam externos ou internos. Espaços que não lhe cabem. Seja na sua própria casa, com sua família, seus irmãos, seus filhos. Seja no deserto, a milhares de quilômetros. A distância é uma constante e é a partir dela que a poeta se coloca, tão íntima, tão densa, a ponto de quase nos fazer sufocar”, define Carla Guerson, escritora, idealizadora do Coletivo Escreviventes.
Intensa dramaturgia
A obra, de intensa dramaturgia, amplia os conceitos de solitude e questiona as companhias: o zoom out coloca o leitor, a personagem-narradora, os cenários, os seus coadjuvantes e a autora em perspectiva com o mesmo protagonismo dos fungos. A geografia do texto expõe rupturas, valas, cânions, abismos e lapsos, ao mesmo tempo que aproxima o sentido da tundra, da savana, da estepe, das dunas, ou transforma em cena uma ida corriqueira ao supermercado do bairro.
“E o chão, esse que pisamos agora? Não será todo o mesmo deserto? Não seremos todos um mesmo organismo? E não estaríamos todos irremediavelmente acompanhados e indubitavelmente sozinhos?”, questiona a autora, mostrando em seus apontamentos sua verve observadora e destemida ao desnudar-se em íntimos detalhes – seja na umidade da infância, na aridez de crescer, na transformação de uma filha em mãe, no assassinato de um deus mítico ou no ato contínuo de escavar.
Em destaque
Envolvida com o lançamento de “Deserto sozinha”, a autora se prepara para a chegada da aguardada obra “Virgínia Mordida”, que chegará nas livrarias de todo país no primeiro semestre de 2024, com a editora Companhia das Letras.