Crônicas

Fim de ano

O ser humano gosta de ciclos. Os ciclos da vida. Por isso, usa os astros – lua, sol e estrelas para se guiar e contar o tempo. O tempo para marcar a duração da vida, para plantar, colher, festejar, guerrear...

Por: Sergio Damião em 23 de dezembro de 2022

O ser humano gosta de ciclos. Os ciclos da vida. Por isso, usa os astros – lua, sol e estrelas para se guiar e contar o tempo. O tempo para marcar a duração da vida, para plantar, colher, festejar, guerrear… Na verdade, não precisaria marcar o tempo. Bastava seguir seus humores e o corpo – ciclo circadiano, algo conectado à rotação da terra. Bastava o relógio da Gaia (mãe terra) ligado ao relógio biológico e hormonal humano. A Gaia gira e nos dá o dia (luz) e a noite (escuridão). Ela nos oferece o tempo para realizações e a oportunidade do descanso. Algo da natureza, mais do que natural. Quando fugimos ou deixamos de aproveitar o que ela nos oferece, agredimos o próprio corpo. Apresentamos elevação da pressão arterial, intolerância sanguínea ao açúcar, alterações na pele, intestino e em nossas relações com todos os seres vivos. Observo Cachoeiro ao se aproximar do fim de ano, mais ainda durante feriado prolongado. Impressiona como o Brasil tem feriados, as emendas são frequentes, nada funciona, algo que foge à razão. Mas, estava falando da cidade de Cachoeiro e dos poucos transeuntes em feriado prolongado e mais ainda no último e no primeiro dia do ano. A Avenida Beira-Rio apresenta-se vazia em personagens e cheia em devaneios. As praias, cachoeiras, lagos, montanhas são destinos preferidos. Permanece a beira do Itapemirim, no centro da cidade, como opção de passeio. Quando em Cachoeiro, no último ou primeiro dia do ano, ao caminhar em torno do rio, fico com a impressão que permaneço em 2015, naquela ocasião, o rito de passagem do ano não aconteceu. Ao lado do Itapemirim o tempo estaciona. A vida se perpetua. Um ato contínuo. Sem necessidade dos ciclos. Ao lado do rio, caminho sem me importar com a contagem dos segundos, minutos… Vivo como o rio, contínuo. O que vai me acontecer é fruto do acaso. Aquilo que depende da razão preparei em tempo anterior. Não posso desejar algo que não preparei para receber. Colho aquilo que planto. Acasos? Nada posso fazer. Apenas preparar para aceitá-los. Ou, olvidar. A beira do rio Itapemirim sem o movimento dos meses anteriores encontra-se assim. Próprio para os pensamentos. Melhor seria seguir as reações do corpo e das emoções. É… Fim de ano! Acredita-se em renovação, ciclo de vidas, contagem de tempo. Não parece animador. Faz-nos pensar. Isto preocupa. A medida do tempo incomoda. A vida devia ser, apenas, um ato contínuo, sem muito lembrar. Porém, nós humanos…