Crônicas

Meu pai

Ele era como todo pai, como a maioria dos pais. Com erros e acertos. Muito mais acertos do que erros. Exagerado nos elogios à prole.

Por: Sergio Damião em 13 de agosto de 2024

Ele era como todo pai, como a maioria dos pais. Com erros e acertos. Muito mais acertos do que erros. Exagerado nos elogios à prole. Considerava o primogênito um craque da bola e contava histórias de jogos inexistentes. Um torcedor alternante: ora flamengo; ora fluminense. Tricolor de coração e flamenguista pelos filhos. Uma imaginação fértil. Espírito irrequieto. Falante. Eloquente. Impaciente. Os conhecimentos eram muitos, provenientes da leitura. Menos dos anos em bancos escolares. Diploma não possuía. Possuía a memória forte e raciocínio rápido. Dos filhos exigia o estudo. Única riqueza a ser deixada, afirmava. Na minha geração poucos pais fugiam a um comportamento: severidade. Os limites eram rígidos. Maleabilidade dependia da mãe, o ponto de equilíbrio. Impossível definir um pai. Podemos descrevê-lo. Como as castanheiras que se espalham por Cachoeiro. Belas, nesses meses. As histórias de nossas vidas se misturam como as folhas vermelhas e alaranjadas pelo chão. A relação com um pai transcende. Sempre me perguntei sobre a transcendência. Acho que é a sensação visual, os traços físicos no outro, a hereditariedade, a imortalidade. Quando perdemos o elo físico com o pai, algo se desgarra, sentimo-nos sozinhos em qualquer idade. Se me dessem uma escolha: gostaria da eternidade como pai, e nos momentos tristes e inseguros, ser o filho. Gostaria dos momentos da inocência da infância, onde tudo o pai pode e resolve. Muitas são as histórias. A primeira vez que provei um misto-quente, estávamos a caminho de um jogo de futebol, não sei se foi o lanche ou a presença dele. Só sei que nunca mais provei um sanduíche como aquele. Nunca mais fui o mesmo. Pensando bem, como filhos, muitas vezes, não há mais tempo para mudar. Como pais, podemos aprender. O difícil é vencer as distâncias. O dia dos pais nos leva às boas recordações. Lembra aos filhos que o pai – embora humano e sujeito a erros, é como um anjo da guarda, uma guarda leve, apenas protetora. O pai deve deixar os filhos voarem, protegendo de longe, mantê-los livres para as realizações de seus desejos. O pai, quando necessário, leva os filhos pelas mãos, quando os soltam, eles ficam em suas lembranças, apesar da distância e aparente abandono, e guando não estão vivos em seus pensamentos, devido a idade avançada, ainda assim, o pai leva os filhos… Leva os filhos em seus esquecimentos.