Crônicas

Não nos calemos

Um cidadão postou ironicamente, em rede social, que as mulheres tinham que comemorar muito o seu Dia Internacional, porque os outros 364 dias eram dos homens.

Por: Marilene Depes em 18 de março de 2024

Um cidadão postou ironicamente, em rede social, que as mulheres tinham que comemorar muito o seu Dia Internacional, porque os outros 364 dias eram dos homens. E foi seguido por inúmeras postagens de apoio. E questiono, se metade da população é formada por mulheres e a outra metade são os filhos delas, de onde surgem tantos machistas, abusadores, assassinos de mulheres? Se são fruto de lares em que a educação, em geral, é ministrada pelas mães, onde elas falham?

As mulheres já carregam culpabilidade histórica, contudo não há como negar que há um equívoco na formação do caráter desses cidadãos. São frutos de lares desajustados? Presenciaram situações de abuso em suas casas? Suas mães foram vítimas de violência? Reproduzem o que assistiram? Eles próprios são órfãos, vítimas da violência doméstica que ceifou a vida das mães? Maria da Penha, que inspirou a lei que leva seu nome, afirma que cada feminicídio dá origem no mínimo a três vítimas invisíveis, e segundo ela a educação pode ajudar a desconstruir a cultura machista, racista e homofóbica, que adoece uma sociedade.

No ano passado, a cada 6 horas uma mulher morreu vítima de feminicídio no Brasil, um dado assustador. E relevar, imaginando que a maioria das vítimas pertence aos bairros de periferia, é engano. Cada uma de nós, independente da idade, situação econômica ou cultural, somos possíveis vítimas. Ou nossas filhas e netas.

Enquanto o homem considerar a mulher como seu objeto de posse, enquanto a mulher se submeter aos seus caprichos imaginando que é por amor que ele a mantém sob controle, enquanto a mulher não denunciar abusos, procurar ajuda, fazer parte de uma rede de apoio e não se calar, o agressor vai aproveitar a fragilidade da vítima. Tem início com xingamento, agressão verbal, tapa, explosão de ciúme, proibição e controle de vestimentas, de saídas, num fluxo de violências sequencial, que culmina com o feminicídio, eis o roteiro previsível. E evitável pois todo violento, na realidade, é um covarde.

Ao primeiro sinal de que seu companheiro não controla as próprias emoções, dê um basta, nenhum ser humano merece viver em pânico, não se cale, você não é culpada pela violência do outro. Sua voz é sua arma, utilize-a.