Crônicas

O melhor do mau humor

Um querido amigo me telefona, perplexo, contando que nunca viu, em toda sua vida, tantos crimes como vêm acontecendo nos tempos atuais. Principalmente contra mulheres.

Por: Wilson Márcio Depes em 27 de março de 2023

Um querido amigo me telefona, perplexo, contando que nunca viu, em toda sua vida, tantos crimes como vêm acontecendo nos tempos atuais. Principalmente contra mulheres. Ele me telefonou, sobretudo por ser eu advogado e que, supostamente, poderia ter, no mínimo, uma explicação. Ou pudesse esboçar alguma tese de algum criminalista. Bem que gostaria de ter em mãos pelo menos uma frase de Ruy Castro, em seu livro “O Melhor do Mau Humor”. Busquei como consolo o fato de que talvez tenhamos evoluído, pois já houve tempo em que escravo não podia ser sujeito passivo do crime de homicídio. Como tal objeto do crime de dano. Tristeza maior, né?
Devolvi pra ele outra preocupação. O painel de cientistas do clima da ONU (IPCC) divulgou seu mais recente relatório, apontando que um ano considerado quente para a geração atual, será equivalente a um ano “fresco” para as próximas gerações. O novo relatório-síntese, que resume as conclusões do sexto ciclo de avaliação promovido pelo grupo, afirma com destaque que é “provável” o planeta exceder à meta de aquecimento de no máximo 1,5°C até 2100. Aliás, essa opinião já era comum entre muitos pesquisadores da área, mas é a primeira vez no último ciclo de avaliações do IPCC, iniciado em 2018, que o painel dá tanto destaque a essa projeção mais pessimista, ao levar em conta as emissões de gases-estufa produzidas até 2021.
Soluções? Dizem os cientistas que o Planeta só tem três anos para começar a derrubar emissões de CO². O limite de aquecimento de 1,5°C da Terra, calculado em relação aos níveis de temperatura da era pré-industrial anterior ao século XIX, é a escolha mais ambiciosa de meta do Acordo de Paris para o clima, inicialmente desenhado para segurar o aumento em 2,0°C.
O planeta, porém, está muito fora da trajetória de cumprimento dessa meta. Para isso, as emissões de CO2 e outros gases-estufa precisam cair pela metade até o fim dessa década, mas até o ano passado ainda estavam aumentando. Em uma década, a produção desses poluentes aumentou mais de 12% e está hoje beirando a marca de 60 bilhões de toneladas de CO² por ano. Peço perdão por descrever dados técnicos oferecidos por cientistas, mas passou da hora de tomarmos conhecimento da situação.