Crônicas

Ouça um bom conselho

Dei, de uns dias cá, pra rever as músicas de Chico Buarque. Antes de escrever esta crônica, me vi cantando, sem mais nem porque: “Ouça um bom conselho/Que eu lhe dou de graça/Inútil dormir que a dor não passa/Espere sentado/ Ou você se cansa/Está provado, quem espera nunca alcança”.

Por: Wilson Márcio Depes em 28 de setembro de 2020

Dei, de uns dias cá, pra rever as músicas de Chico Buarque. Antes de escrever esta crônica, me vi cantando, sem mais nem porque: “Ouça um bom conselho/Que eu lhe dou de graça/Inútil dormir que a dor não passa/Espere sentado/ Ou você se cansa/Está provado, quem espera nunca alcança”. Estou cansado de más notícias, impregnado desse acúmulo de crises — política, econômica, ambiental, sanitária, ética —, resolvi me dar uma pausa assistindo, na companhia de Zuenir (de longe) e com atraso, à série “Sessão de terapia”, adaptação da original israelense, e convido você a fazer o mesmo. É um fenômeno. Lançada em 30 países, foi aqui onde deu mais certo, já estando na quarta temporada. O sucesso é atribuído ao fato de propiciar uma fuga a esses nossos tempos tão adversos e perversos. Estaria servindo como catarse, como purgação. Antes, porém, é preciso que se diga, velho Zu fez uma retrospectiva pra mim. Explica ele que Selton Mello, responsável pela adaptação, pela direção e pelo bom êxito do espetáculo, acha modestamente que o mérito se deve à cultura do “voyeurismo”, citando o “BBB” de exemplo, como fez em entrevista a Pedro Bial. Admito, porém, que parte da resposta possa ser dada com a ajuda de Freud, que teria diante de si um prato cheio: pandemia, clausura, reclusão, isolamento, solidão, melancolia. O cenário da série é um consultório simples, onde o analista atende seus pacientes desfilando parte do que todos sentimos ou vamos sentir um dia, mesmo não sabendo o nome: culpa, complexo, compulsão, distúrbio emocional, transferências entre pacientes e terapeutas e vice-versa. Aconselho a meus amigos e leitores a que assistam o programa, senão pelo interesse no assunto, mas pela qualidade dos atores e atrizes. Tudo é muito bem feito. Mesmo para quem não goste do assunto ou rejeite a psicanálise ou não tenha coragem de pagar uma consulta. Encerrando, que me desculpe quem pensa ao contrário, o discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral na ONU foi de quinta categoria, ou, com diz Elio Gaspari, discurso de vereador em cima de caçamba de caminhão.