Crônicas

Piada de Brasileiro

Anos atrás, escrevi sobre minha viagem a Portugal. Visitei Lisboa e seus arredores e Porto. Na ocasião, Porto apresentava-se como um verdadeiro canteiro de obras, uma cidade preparando-se para ser a capital cultural da Europa.

Por: Sergio Damião em 27 de janeiro de 2021

Anos atrás, escrevi sobre minha viagem a Portugal. Visitei Lisboa e seus arredores e Porto. Na ocasião, Porto apresentava-se como um verdadeiro canteiro de obras, uma cidade preparando-se para ser a capital cultural da Europa. E assim permanece. Na lembrança, uma leve tristeza, pois anos depois o Rio de Janeiro tornou-se uma cidade olímpica com um custo gigantesco, e no legado, bem pouco restou. A lógica portuguesa leva às explicações corretas; detalhes demais para a informalidade brasileira: “Vocês fecham aos sábados? Não, nós não abrimos…” Ou quando turista pergunta: “Por que vocês não usam os carros brasileiros?

Quais? A Volks. É alemão! A Ford. É americano! A Fiat. É italiano! A…” Ao desembarcar no Brasil permaneci em terras cariocas. Incomodava: Não faça isso, não vá a este ou àquele lugar à noite, cuidado… Fiquei com a impressão de exagero. Do aeroporto ao hotel, as dúvidas foram se dissipando. Da janela do carro: constrangimento com os pedintes. As moradias que tomavam os morros feriam os olhos em dia ensolarado. Ainda entristecido pelo que via, por um momento virei o rosto em direção ao mar, demorei a acreditar na beleza de suas águas. No hotel, a recepcionista atendia um turista português. Comentava sobre o avanço cultural e autoestima portuguesa. Algo que já não permitia as piadas. Bem… Quanto ao Brasil: já caminha para 200 anos de independência e ainda não foi suficiente para livrar-se de seus atrasos. Demorou em libertar seus escravos, e quando o fez, sua elite econômica e intelectual nada evoluiu.

O português veio ao Brasil para se deliciar com as belezas tropicais. Suas matas e reservas de animais. Em jornais portugueses, o governo brasileiro insinuava uma cobrança por possuir o pulmão do mundo. Certamente estavam preservando. Bem como os mananciais e as nascentes. O Guia o levou por estradas esburacadas, em carro sem manutenção. Pela estrada observava um número sem fim de farmácias, não entendia a razão de tantas. Da mata atlântica pouco usufruiu. Na volta, em descanso no Hotel, pela televisão, tomou conhecimento da corrupção e falta de decoro parlamentar. Ficou pensativo, lembrou que o motorista de táxi nem por um momento comentara ou reclamara. Afinal, o comentário ou revolta destes motoristas é o termômetro no mundo afora. Achou estranho a passividade.