Crônicas

Reviravolta geracional

Não é necessário buscar no passado distante, eu vivi toda reviravolta geracional cujo resultado estamos hoje assistindo.

Por: Marilene Depes em 22 de novembro de 2021

Não é necessário buscar no passado distante, eu vivi toda reviravolta geracional cujo resultado estamos hoje assistindo. Voltando no tempo lembro da minha infância na roça e depois na cidade, em que a infância durava, na nossa concepção, uma eternidade. Entrávamos na adolescência mais ou menos aos 14 anos e desejávamos chegar logo aos 15 para usufruir de alguma liberdade, o que nunca acontecia enquanto estávamos na casa dos pais. A infância durava muito e a comunicação era mínima entre pais e filhos, mesmo com muito amor envolvido.
Nos dias de hoje, aos 10 anos de idade, há uma fusão entre criança e adolescente, eles brincam e namoram tudo junto e misturado, e ao mesmo tempo que isso ocorre observamos outro grande fenômeno – a prorrogação da velhice. E entre a infância e velhice uma geração de adultos que demora bem mais a decidir pelo casamento e pela vinda de filhos.
Nasci de pais considerados idosos para o padrão da época, só me lembro deles já de cabelos brancos e com atitudes coerentes com a idade, o que era comum. As roupas da minha mãe eram austeras como suas atitudes, ela não tinha vaidades, aos 50 anos se comportava como uma velha no linguajar da época. Nunca vi minha mãe cantar nem dançar, apenas cumpria suas obrigações de dona de casa e só saía para fazer compras e ir à igreja. Meu pai trabalhava nos cuidados do sítio, mas também era um senhor austero que vivia uma vida ausente de diversões, seu lazer era a jardinagem.
Hoje observamos pessoas com mais de 50 anos florescendo para a vida, casais que curtem juntos ou separados, idosos que se aposentam e decidem retornar aos estudos e buscar novas carreiras, avós que seguem a moda e essa hoje não é mais restrita à idade, os netos até usam roupas dos avós.
E assim surge uma nova geração de pessoas idosas entre os 60 aos 80 anos, como surgiu a dos adolescentes no meado do século passado. São homens e mulheres independentes, que já se aposentaram mas que decidem continuar na própria profissão ou escolhem outra mais prazerosa, desfrutam do tempo livre, estudam, frequentam academias, dançam, cantam, viajam, se não estão felizes nos seus relacionamentos não têm medo de arriscar e começar tudo de novo e até mais vezes se necessário. Essa nova geração opera computadores e smartphones como se tivessem feito isso toda vida, estão inseridos em redes sociais, não ficam lembrando saudosamente da juventude, vivem o momento presente em plenitude. Estão sempre repletos de ideias, cuidam de planejar a própria história e não a dos familiares, convivem com todas as gerações, projetam viagens, reformam e modernizam seus espaços, adoram festejar a própria idade e a vida. E neste grupo me sinto inserida.