Crônicas

Santiago

Anos atrás visitei Santiago de Campostela, cidade ao norte da Espanha, criada em homenagem ao apóstolo Tiago. Uma cidade mística com muitas trilhas em seu caminho.

Por: Sergio Damião em 13 de novembro de 2023

Anos atrás visitei Santiago de Campostela, cidade ao norte da Espanha, criada em homenagem ao apóstolo Tiago. Uma cidade mística com muitas trilhas em seu caminho. Caminhei pouco, na verdade, fiz o percurso de Madri à Santiago de ônibus. Mesmo assim, recebi o certificado de peregrino de Campostela. Na ocasião me chamou a atenção e impressionou foi o momento final da missa com os peregrinos do mundo inteiro. Vi uma cortina de fumaça, proveniente de um Bota-fumeiro, ocupando toda cúpula da igreja, uma leve neblina e uma transcendência quase possível. João Moreira Salles, em documentário, ouve e mostra a história daquele que serviu sua família por vários anos. Santiago, seu mordomo, mistura-se com sua história e da casa transformada em museu. Não soube explicar o significado das lembranças. Penso que a memória serve para mostrar os fragmentos da intimidade. E com isso ensinamos o que sabemos e aprendemos o que nos falta. Retornei à Santiago, capital do Chile. Guarda um ar pacato, acolhedor e inocente. Os montes brancos, cobertos de neve, que formam a Cordilheira dos Andes e contornam toda parte principal da cidade; a catedral de arquitetura ousada e interior deslumbrante com as cores variadas de seus mármores despertam das lembranças os fragmentos necessários para o prazer da vida. Vejo semelhanças em nossas pedras (Itabira, Frade e a Freira, Pedra da Penha): ao envolverem o vale de Cachoeiro de Itapemirim, fixam da memória as reminiscências, tanto quanto as pedras cobertas de neve dos Andes. E parecem se juntar às pedras dos náufragos de Neruda. Eu não sei você, mas quando viajo carrego em mim a apreensão, o medo da perda das coisas da vida, das pedras que deixamos, mais ainda nesses tempos de pandemias. Medo de adoecer longe das coisas e pessoas em que nos habituamos. Mas, a busca do novo nos empurra, mesmo sabendo que as coisas do presente e aquelas do passado são as que nos marcam. Assim, tão logo voltamos e constatamos as coisas como sempre, um tempo não mudado, com o futuro a ser construído, desmancha-se o medo e nos leva a pensar em partir novamente. No ir, partir e voltar vamos chegando ao fim. Até sermos esquecidos por muitos.