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Toninha: o golfinho “invisível” que pode ser extinto no ES

animal, que vive em águas rasas perto da costa, habita todo o litoral norte capixaba. De tamanho pequeno, mede cerca de 1,5 metros de comprimento e se reproduz uma única vez a cada dois ou três anos.

Por: Redação em 25 de setembro de 2022

A toninha, o golfinho mais ameaçado do Brasil, corre sério risco de ser extinta no Espírito Santo. O animal, que vive em águas rasas perto da costa, habita todo o litoral norte capixaba. De tamanho pequeno, mede cerca de 1,5 metros de comprimento e se reproduz uma única vez a cada dois ou três anos. Segundo o médico veterinário Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, a principal causa de morte dessa população está relacionada com a captura acidental em redes de pesca de emalhe – que é deixada no mar por algumas horas antes de ser recolhida.

“Se não forem tomadas com urgência medidas para reduzir a mortalidade das toninhas, assistiremos a iminente extinção desta população de cetáceos mais ameaçados do Brasil. Além da degradação do habitat marinho e poluição, a pesca acidental é um dos maiores riscos”, aponta Eduardo Camargo, presidente do Instituto Baleia Jubarte.

De acordo com informações do Instituto Baleia Jubarte em Vitória, as toninhas se alimentam de pequenos peixes, como a pescadinha, manjuba, sardinha e também pequenas lulas. A toninha é considerada o “golfinho invisível” por sua natureza mais discreta e, por isso, é difícil de ser encontrada na natureza. Elas vivem em grupos pequenos de até cinco indivíduos.

Uma característica peculiar da distribuição de toninhas é que tanto no Espírito Santo, quanto no Rio de Janeiro, às populações de toninha vivem isoladas, fato que não ocorre nas outras regiões. Na costa capixaba, elas habitam o norte do estado, desde a região de Santa Cruz, em Aracruz, até a divisa com a Bahia. No litoral fluminense, elas podem ser encontradas desde a região de Rio das Ostras até a divisa com o Espírito Santo.

“O fato das populações de toninhas viverem isoladas nas costas capixaba e fluminense, é um agravante, já que não há intercâmbio com outras populações para fins de reprodução, por isso o risco de ocorrer a extinção da espécie nestes dois estados é muito alto. No Espírito Santo estimamos que restem menos de 600 animais e cerca de 1.200 no Rio de Janeiro”, afirma Milton Marcondes.

De acordo com Milton, a taxa anual de morte dos animais é bem maior do que a capacidade dessa população de se reproduzir, levando a um sério risco de extinção. “Para essa população se manter estável, segundo cálculos que fizemos, é preciso haver no máximo duas mortes a cada três anos. Porém, nos últimos três anos, registramos 34 casos de óbitos de toninhas”, relata o especialista.

Eduardo Camargo, presidente do Projeto Baleia Jubarte, reforça a urgência de iniciativas ambientais com o objetivo de evitar a extinção das toninhas. “Se nada for feito, o Brasil poderá amargar o vexame de ter assistido à extinção de uma espécie de golfinho sem ter feito nada para impedir”, lamenta.

Em busca de solução pelos golfinhos invisíveis
Em 2015, após tirar a baleia-jubarte da lista das espécies ameaçadas de extinção, o Instituto Baleia-Jubarte (IBJ) decidiu investir na proteção da toninha, outra espécie ameaçada. Em 2017, através de um edital FUNBIO, foi aprovado uma proposta para avaliar o problema das capturas acidentais de toninhas na pesca no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Começou assim o Projeto Diagnóstico da Captura Incidental de Toninha na Área de Manejo I (FMA I) e Abordagem Comunitária de Medidas de Mitigação.

As toninhas costumam morrer emalhadas nas redes de pescas. O emalhe acidental é a principal causa de mortalidade das toninhas, mas elas também sofrem muito com a poluição, a degradação do ambiente onde vivem e a ocupação do litoral.

Fiscalização efetiva
Entre as soluções que Milton aponta para a mitigação do problema está a fiscalização eficiente já que em todo o litoral da região de São Mateus e Linhares está proibida a pesca, devido ao derrame de lama da Samarco, porém é constantemente desrespeitada. “Precisamos ter uma fiscalização efetiva, já que a pesca na região está proibida, mas muitos pescadores não respeitam a proibição e acabam capturando toninhas em suas redes. Se houvesse uma fiscalização eficiente, esse problema seria mitigado”, comenta.

“Nós entendemos que a pesca é um meio de sobrevivência para muitas pessoas naquela região; sendo assim uma saída é a pesca em águas mais afastadas, já que no Espírito Santo as toninhas são encontradas no máximo até quatro quilômetros da costa. Além disso, a não utilização de redes para a pesca próximo à costa também é uma opção que amenizaria o problema, já que a maior causa de morte dos animais está relacionado ao emalhe nessas redes”, sugere o pesquisador Milton Marcondes.