Crônicas

Viver em paz

Seria utopicamente simples, não se expor, não reagir... só que eu morreria em vida. Escrevi sobre o medo que se vive nos tempos atuais, medo da violência generalizada e que agora se expandiu atingindo quem não pensa e age dentro de uma bolha.

Por: Marilene Depes em 24 de outubro de 2022

Seria utopicamente simples, não se expor, não reagir… só que eu morreria em vida. Escrevi sobre o medo que se vive nos tempos atuais, medo da violência generalizada e que agora se expandiu atingindo quem não pensa e age dentro de uma bolha. Não possuo bolha, sigo na direção que minha consciência me encaminha, e ela me coloca ao lado dos que não possuem voz nem vez. Minha ação política eu exerço nos conselhos de direitos e na escrita que é meu instrumento de luta. Já atravessei um longo caminho em que aprendi a respeitar os que pensam diferente, nunca entrei na seara alheia para exercer o contraditório. O que não dá o direito de que entrem em meus escritos de forma desrespeitosa. Fico feliz ao constatar que pessoas cultas e inteligentes com quem convivo, personagens políticas que admiro, grandes pensadores, intelectuais e artistas dos quais sou fã votam Lula! Particularmente não levo vantagem com a minha escolha, sou independente e usufruo do fruto do meu trabalho, o que me dá pouco tempo de inércia para ficar perturbando a vida alheia. Apenas exerci minha liberdade de expressão para fazer um desabafo, ufa vida!
Há uma semana comemoro o resultado do Concurso de Crônicas Rubem Braga, realização da Academia Cachoeirense de Letras, com a participação das escolas públicas e privadas do sul do Estado, e a adesão de mais de oitenta jovens. Senti uma emoção profunda ao ler do estudante de 14 anos, Pedro Henrique Fonseca Lopes, terceiro lugar no concurso, aluno de escola pública, uma análise tão lúcida da nossa independência e dos dias atuais : “Fico triste ao ver o que nosso Brasil está se tornando. Não são conquistas que ficarão na história, como as do Dom Pedro, mas de um tempo marcado por estupros, assassinatos, que nada tem a ver com domínio e poder, mas sim, destruição de sonhos, desrespeito e falta de amor”. Da jovem Isabella da Silva Cleto, primeiro lugar, de 16 anos e de escola pública: “Mas eu ainda me questiono sobre essa tal “independência e liberdade”. Não somos independentes e muito menos livres. Será que um dia, alguém, em alguma lugar, vai fazer algo para libertar de verdade o nosso povo?” E da jovem Ana Clara Guarçoni Resende Maggioni, 17 anos, de escola particular, segundo lugar: “A classe favorecida, com um mundo para desfrutar, tinha o brilho em seu olhar, mas os menosprezados, pobres e escravos ainda precisavam lutar por dias em que pudesse ter irmandade entre os homens”. Quanta sabedoria desses jovens, eles falam de um Brasil da independência aos dias atuais, que pode se transformar com nosso voto consciente.