Crônicas
Receita Literária
As britânicas Susan Elderkin e Ella Berthoud escreveram: Um receituário literário de A a Z. Uma terapia poética para a depressão. Após o texto de Agualusa, pensei nos nossos hospitais: Enfermaria e UTI.
Por: Sergio Damião em 25 de janeiro de 2023
José Eduardo Agualusa escreveu sobre a importância das palavras. Destacou a poesia, o poder do som poético nos sentimentos humanos e consequentemente na mudança de comportamento de pessoas perante as coisas da vida ao serem despertadas em seus sentidos. Considera a poesia mais eficaz que livros de autoajuda. As britânicas Susan Elderkin e Ella Berthoud escreveram: Um receituário literário de A a Z. Uma terapia poética para a depressão. Após o texto de Agualusa, pensei nos nossos hospitais: Enfermaria e UTI. Nesses hospitais a busca é pela humanização. Várias ações são incrementadas, tais como: música, acolhimento com classificação de risco – graus de urgência no atendimento do pronto-socorro e médicos da alegria. Mesmo com todas essas ações, visitantes em hospital – amigos e familiares, muitas vezes, encontram-se juntos aos pacientes e, por momentos, a palavra desaparece. Quem sabe a poesia, um trecho poético, algo que desperte e que faça modificar o momento presente e futuro, desperte os sentidos. A poesia pode despertar a memória ou preencher nossos esquecimentos. De Ferreira Gullar: Quando você for se embora / moça branca como a neve, me leve / Se acaso você não possa/ me carregar pela mão,/ menina branca de neve,/ me leve no coração/ Se no coração não possa / por acaso me levar, / moça de sonho e de neve,/ me leve no seu lembrar/ E se aí também não possa / por tanta coisa que leve/ já viva em seu pensamento,/… me leve no esquecimento. Sobre as nossas fragilidades e medos, Libério Neves escreve: Se, por acidente, moléstia ou velhice, algum dia eu vier a ver-me (resto) imóvel no lençol, a depender, por caridade ou pelo amor, do vosso gesto difícil, esse gesto de lavar meus panos de matéria e de limpar os meus resíduos deste mundo… / isto será profundo para vós e doloroso para mim. / E certamente é certo que não terei palavras, nem gestos, para vos agradar./… quando (eu) assim restar, imovelmente mudo, contudo ainda vivo, estarei à todo instante, em mente, beijando as vossas mãos em mim santificadas… essencial talvez à filtração da alma. Após reler Ferreira Gullar, Libério Neves, Drummond, Alberto Caeiro, Manuel Bandeira e alguns outros, pensei… Para os momentos em que falta a palavra em leito de hospital, ou em seu pátio, como visitante ou enfermo, gostaria de ouvir e sentir, a poesia da pessoa amiga, em forma simples, proveniente do fundo da alma.