Crônicas

A mística do Liceu

Quando era secretário de Planejamento na Prefeitura, muita gente chegava perto de mim, com ar de profunda amizade, e dizia: - Deixa isso pra lá. Cultura não dá voto”.

Por: Wilson Márcio Depes em 6 de junho de 2022

Quando era secretário de Planejamento na Prefeitura, muita gente chegava perto de mim, com ar de profunda amizade, e dizia: – Deixa isso pra lá. Cultura não dá voto”. É que tínhamos trazido uma série de ideias de Curitiba. Adaptamos ao nosso jeito de ser, e deu certo. Era o “Pintando na Praça”, “O Circo da Cultura”, “Os seresteiros tocando no Chafariz”, e por aí vai. Não dei muita importância aos amigos. Eu carregava comigo o conceito absorvido do professor Antonio Cândido de que cultura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza.
Encontrei sábado passado (28) com o prefeito Victor Coelho na comemoração dos 60 anos da Academia Cachoeirense de Letras. Era mais uma das programações da Bienal Rubem Braga, que, aliás, foi um grande sucesso. O prefeito vem prestigiando muito a cultura cachoeirense que é rica em valores. Numa conversa de, no máximo dez minutos, ele me disse que gostaria de homenagear Sergio Bermudes e seu pai, o eterno professor Aylton Bermudes, recentemente falecido. Sérgio – seria desnecessário dizer – ajudou os cachoeirenses, através do prefeito, socorrendo aqueles que sofriam os efeitos das enchentes do Itapemirim. O próprio Victor, que sequer conseguia sentar, com fortes dor na coluna, disse-me, na oportunidade, que o Hospital Evangélico estava até sem remédios e sem condições de realizar cirurgias. Uma parte do auxílio foi pra lá, e o restante cobriu as necessidades sociais através da secretaria pertinente da Prefeitura.
Sérgio será homenageado com a comenda Rubem Braga. E o professor? Bem, o busto do professor está praticamente pronto. Já fomos ver a localização no Liceu. O governador Renato deu sinal verde. E o professor Aylton, lá de cima, estará repetindo que “essa atmosfera de dedicação e seriedade, de valorização das coisas e inteligência deve-se ao núcleo de professores entusiastas e competentes, que superaram as possíveis deficiências de sua formação pedagógica pelo estudo, pelo derrotamento e pelo decidido propósito de que o Liceu devia ministrar um bom ensino. Esse seu título de glória, a força invisível, mais atuante e duradoura, que sedimentou na alma dos ex-alunos o sentimento de amor por seu colégio, presente na saudade e no orgulho de haver estudado no LICEU”.
Se cultura dá voto ou não, cabe aqui, prefeito Victor, parodiar Tom Jobim: eu não moro em Cachoeiro, eu namoro Cachoeiro.