Crônicas

A obesidade e a solidão

A médica e cientista Eliete Bouskela realmente furou a bolha masculina e passou a comandar a mais antiga instituição médica em funcionamento permanente no Brasil. Ela é a mais famosa especialista em obesidade.

Por: Wilson Márcio Depes em 11 de dezembro de 2023

Depois de dois séculos – disse 200 anos !!!… – a Academia Nacional de Medicina (ANM) elegeu uma mulher para sua presidência. A médica e cientista Eliete Bouskela realmente furou a bolha masculina e passou a comandar a mais antiga instituição médica em funcionamento permanente no Brasil. Ela é a mais famosa especialista em obesidade. É professora na UERJ, dentre outras atividades, e tem mais de 250 estudos publicados em temas como prevenção como prevenção e tratamento da obesidade.

Curioso: ela ensina que a obesidade caminha junto com outra pandemia – a da solidão. E seu tratamento e combate vai muito além de dietas e medicamentos. Narra que em 1970, quando começou seus estudos, não se via muitas pessoas gordas no Brasil. “Mas essas doenças explodiram. Hoje há cerca de 1 bilhão de pessoas obesas no mundo. No Brasil, mais de 50% da população têm excesso de peso, e destes, 35% são obesos. A obesidade cresce em todas as faixas de renda. E mesmo em países conhecidos pela população esbelta, há muito mais gente com sobrepeso”.

Segundo ela, existem muitos fatores, exatamente porque mudamos nossos hábitos. As pessoas não se movem mais. Há comida demais e atividade de menos. Elevadores, escadas rolantes, máquinas de lavar roupa e louça, aspiradores de pó. Tudo isso, por óbvio, para facilitar a vida. Mas nos tornou imóveis. Precisamos nos programar para o movimento, para substituir com exercícios atividades que eram corriqueiras.

– Temos que deixar o elevador de lado, andar mais e nos disciplinar para sermos ativos. Somado a isso, há grande oferta de comida de má qualidade, sem nutrientes e que engorda. Há um grande problema de saúde mental. A obesidade e a solidão caminham juntas. Em tempo de redes sociais, nunca estivemos tão sozinhos e infelizes, confinados em nossas casas. A comida faz companhia a tanta gente só. Ela é o conforto de uma multidão que engorda por trás das telas de celulares e TVs. É um conforto fugaz e que cobra caro. A obesidade é um efeito colateral da grande solidão.