Crônicas
A omissão nossa de cada dia
“Conheço tuas obras, não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca” – Apocalipse cap. 3, vers. 15 e 16.
Por: Marilene Depes em 23 de agosto de 2021
“Conheço tuas obras, não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te da minha boca” – Apocalipse cap. 3, vers. 15 e 16. E quem são essas pessoas mornas? São aquelas que falam por trás ou pelos corredores e nunca diretamente com as pessoas, que vivem reclamando sem tomar atitudes para mudar a realidade, fogem de qualquer compromisso além dos obrigatórios, nunca se envolvem nas questões comunitárias e de cidadania, e se têm filhos deixam sempre para o outro tomar as decisões referentes a eles.
O radical representa o contrário, em geral é uma pessoa inteligente que ultrapassa a barreira da mediocridade, onde o omisso se coloca, e se faz presente em atos concretos e de atividade plena. O morno, em nome da prudência, deixa de participar ativamente da vida e dos confrontos.
Segundo Mario Sergio Cortella, a radicalidade é uma virtude e a superficialidade um vício. Acomodar-se diante da vida leva a uma acomodação cada vez maior, até que a pessoa torna-se incapaz de assumir qualquer posição. E muitas vezes somos omissos mesmo quando nem imaginamos sê-lo. Vou exemplificar concretamente: Num evento foi-me oferecido um número para entrar num sorteio de um porquinho. Como aquilo ia contra minhas convicções, não concordei em participar. Sou uma defensora dos animais, e radical à medida que influenciada pelos jovens, principalmente os netos, evito até os produtos que os utilizam em suas experiências. E tenho uma compaixão enorme pelos animais de abate, principalmente pelos porcos cuja morte me fazia acordar de madrugada, com seus berros lancinantes ao serem abatidos. Enfatizo que não estou julgando ninguém, cada um com suas próprias convicções merecem respeito, mas após o evento fiquei analisando o quanto fui omissa, se tivesse entrado no sorteio eu poderia ter salvo o porquinho.
Metaforicamente, quantos porquinhos deixamos de salvar a cada dia? Por comodismo, preguiça, medo, burrice, enfim, por omissão. Ser morno e omisso é fácil, não dá trabalho e não nos compromete, como também não nos comprometemos quando não concordamos com algo e saímos pela tangente imaginando contribuir.
Segundo os Titãs, em Epitáfio: “ Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter arriscado mais, e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer…devia ter morrido de amor. O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído? ” Sei não.