Crônicas

A ponte do Itapemirim

Márcia desviou de caminho, da Beira-Rio tomou o vão da ponte e atravessava o rio Itapemirim. Atravessava o rio e se perguntava sobre a atitude de desviar caminhos.

Por: Sergio Damião em 17 de agosto de 2020

Márcia desviou de caminho, da Beira-Rio tomou o vão da ponte e atravessava o rio Itapemirim. Atravessava o rio e se perguntava sobre a atitude de desviar caminhos. Durante sua vida seguia nesse vai e vem, como a todo instante necessitasse de uma ponte para fugir de suas responsabilidades. Uma ponte para as suas diversas fugas. Naquele instante era para fugir do encontro com Carlos, em outros momentos fugia de seus temores e suas melancolias. Era sempre assim: vivia fugindo de pessoas e de si mesmo. Numa busca incessante por algo desconhecido. Coisas das suas fantasias e fruto de sua imaginação. Aproveitaria o início da noite, a lua, o rio… e tomaria uma decisão. Pensaria nos filhos, família e no Carlos. De repente, se deu conta que não possuía amigos ou amigas que pudesse trocar confidências, alguém que pudesse dividir angustia ou pequenos deslizes. Aqueles que ouviriam e dariam razão às suas sandices. Entenderiam as razões do agir. Percebeu que sua vida encontrava-se em vazio imenso. Percebia que muitas outras mulheres apresentavam o mesmo vazio. Em meio à multidão encontrava-se no absurdo da solidão. Sentia-se só. Talvez a razão dos encontros de anos atrás com Carlos. Compreendeu, não necessitava da ponte, não completaria o trajeto, retomaria o caminho da Beira-Rio, caminharia em direção à Ponte de Ferro, substituiria o absurdo da solidão. Teria a companhia dos filhos e família. Seria feliz. Estava decidida e assim seria. Retornava com passos firmes. Aos poucos, ao se aproximar da calçada da beira do rio, os pensamentos mudavam, a decisão de minutos atrás já não se confirmava em sua mente, oscilava entre as escolhas: à esquerda seguiria em direção à Ponte de Ferro e à direita retornaria à Ilha da Luz e ao encontro inevitável com Carlos. Ele, ao longe, apresentava passos cambaleantes, encontrava-se amparado. Seria um encontro sem futuro. Lembraria um passado de instantes mágicos de corpos suados e dias seguintes angustiantes. Retornaria uma grande paixão amorosa e sofrida. Parou. Respirou fundo e decidiu. Tomaria o caminho da Ponte de Ferro. A lua estava à sua frente, iluminava o seu caminho. No dia seguinte, pelas estrelas que se apresentavam no céu, seria um lindo dia ensolarado.