Crônicas

Acaso

Caminhar pelas ruas das cidades, mais ainda em Cachoeiro, em dia de domingo ensolarado, permite pensar. O melhor é quando estamos sozinhos.

Por: Sergio Damião em 10 de outubro de 2022

Caminhar pelas ruas das cidades, mais ainda em Cachoeiro, em dia de domingo ensolarado, permite pensar. O melhor é quando estamos sozinhos. São momentos íntimos, introspectivos, diferentes daqueles do dia a dia, da rotina da vida diária. Em um desses momentos, em uma das ruas de acesso para a beira do rio Itapemirim, pensei nas coisas de nossas vidas. Na vida coletiva das pessoas, administração e política da cidade, áreas para lazer e cultura que nos faltam, na educação e saúde, coisas que podem melhorar ou piorar com o voto de uma eleição municipal, estadual ou nacional. Pensei, além disso, nas coisas do destino, do acaso (instantes do tempo não dominados) e naquelas que dependem do esforço pessoal (da nossa determinação). Da determinação pessoal, pensei naquilo que é material: casa, carro, roupas, algo que conquistamos com o trabalho. Alcançamos esse patrimônio com o estudo e conhecimento. Raramente com o espólio dos nossos pais ou parentes próximos; nestes, os bens adquiridos, deixamos se perderem ou não valorizamos. Para as coisas não materiais, lembrei-me da mitologia grega e do nascimento de Édipo. Para os gregos, o destino, salientado pelo oráculo, se fez realidade. Na atualidade, a mobilidade humana é grande. Acidentes e acasos são muitos. Definir profissões, parcerias, relacionamentos amorosos, família e moradia podem ser fruto da nossa vontade, ou, por conta daquilo que não dominamos. Os impulsos são muitos, alguns de domínio da razão, do nosso raciocínio lógico, da moral, dos costumes, daquilo que definimos e aprendemos como certo ou errado. Mas essas coisas da razão se desfazem quando a emoção, nossos sentimentos e desejos mais íntimos, aquelas coisas que nos fazem rir, chorar, vibrar e arrepiar aparecem, sem ao menos sabermos a razão. Nesses momentos da emoção, quando sorrimos ou choramos, é que verdadeiramente decidimos nosso caminho. Mesmo que, racionalmente, o pior ou mais difícil dos caminhos tenha sido o escolhido. Caminhamos, ora lentamente – racionalmente, ora apressadamente – com as emoções. Porém, como na mitologia, entre as coisas do céu (deuses) e da terra (humanas), entre os bons e os maus momentos, entre as coisas imaginadas e vividas, apresentam-se a realidade e as dores, de mágoas e feridas, dos acasos.