Crônicas

Adeus ao Iate Clube

Numa época em que ainda não havia trios elétricos nem desfiles de escolas de samba no padrão dos mega eventos atuais, o carnaval de clube era o grande destaque e o Iate Clube oferecia o melhor carnaval, e recebia foliões de todo país.

Por: Marilene Depes em 18 de janeiro de 2021

Não é nenhum exagero afirmar que o Iate Clube Marataízes foi considerado o melhor, em seus áureos tempos, no Estado e no país. Numa época em que ainda não havia trios elétricos nem desfiles de escolas de samba no padrão dos mega eventos atuais, o carnaval de clube era o grande destaque e o Iate Clube oferecia o melhor carnaval, e recebia foliões de todo país.
O Iate foi construído na década de cinquenta, partindo da ideia de Dona Ruth Vivácqua, que com outras famílias pioneiras em Marataízes, entre elas os Volpini, Moreira, Casotti, Carvalho de Brito e Rezende, decidiram construir um clube que agregasse os jovens para não se locomoverem para Cachoeiro no carnaval, que na época era famoso no Caçadores Carnavalesco Clube. As famílias se reuniram, se cotizaram e requereram autorização da Marinha para o construção do clube, que inicialmente possuía espaço reduzido e destinado principalmente aos familiares dos fundadores. Mas tornou-se necessário ampliar tanto a participação quanto a obra, e é importante destacar o papel do Sr. Adelson Rebello Moreira em toda a história inicial do clube, cujo ápice ocorreu na gestão do Sr. Élcio Sá na presidência e a construção do segundo andar, piscina olímpica e enorme área de esportes.
A fim de manter financeiramente o clube, foram vendidas cotas para sócios proprietários e sócios que pagavam mensalidades, e para esses era liberado o acesso aos eventos, inclusive com mesa reservada. Os Carnavais do Iate eram memoráveis, a banda de Zé Nogueira contribuía para o sucesso explosivo da folia e sem exagero, o clube chegou a receber milhares de foliões numa só noite. O Carnaval acontecia em quatro noites e dois matinês, além do Baile do Havaí no sábado anterior; a formação dos blocos e a riqueza das fantasias extasiava a todos e culminava com um concurso riquíssimo e exuberante, com fantasias individuais e blocos, entre adultos e infantis. O grande destaque no quesito luxo foi o Jimy’s Cabeleireiro, campeão por décadas.
Nas noites de folia a fila para a compra dos ingressos atravessava quarteirões e era o carnaval que bancava o clube e mantinha outros eventos e shows de artistas como Fábio Júnior, Fafá de Belém, Jô Soares, Chico Anísio, Milton Nascimento, Sidney Magal, Pepeu Gomes, Banda 14 Bis, Banda Blitz, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha, Roupa Nova, todos lotados e sempre com prejuízo, com exceção do show de Roberto Carlos. Além dos memoráveis Concursos da Garota Verão e do Garoto Pão e grandes eventos esportivos.
E assistimos tristes e ao mesmo tempo aliviados a demolição do Iate Clube e o final da história inesquecível de Marataízes. Aguardamos do poder público uma compensação que pelo menos preencha a memória afetiva de tantos, que terminavam o carnaval cantando pelas ruas: “Amor, é uma praia assim… Marataízes tu és felicidade e para quem amou será sempre saudade! ”