Crônicas

Amor, paixão e loucura

Cupido, na mitologia, apresenta-se com venda nos olhos, o amor não percebe os defeitos do outro. A paixão cega, só o sentimento amoroso ilumina.

Por: Sergio Damião em 17 de maio de 2022

Cupido, na mitologia, apresenta-se com venda nos olhos, o amor não percebe os defeitos do outro. A paixão cega, só o sentimento amoroso ilumina. Na idade média surgiu o amor cortês e a impossibilidade da relação. Duas lendas de amor impossível se apresentam em Tristão/Isolda e Lancelot/rainha Guinevere. Antes disso, com o primeiro casal da criação, Adão se declarava para Eva, “Onde Eva estiver lá é o paraíso.” Bom, se não disse, deveria ter dito. Santo Agostinho escreveu que a paixão é uma fantasia, uma alucinação, a pessoa amada é apenas uma desculpa que damos para alcançar a emoção do apaixonar-se. Erasmo de Roterdã (1466/1536) publicou o Elogio à Loucura. Afirmou que a loucura torna as mulheres amáveis. Eles prometem tudo a elas e em troca de quê? Do prazer. Mas elas só o concedem pela loucura. Para a psicanalista Betty Milan a busca do ser humano é pela completude. Cita Lacan: O amor é o desejo impossível de ser um quando há dois. O mito da completude inicia-se na mitologia grega. Éramos um só. Zeus nos cortou pela metade com receio da nossa força. Desde então a busca de nos tornarmos um só. Um desejo impossível. Na literatura muito se falou sobre o amor. Livros clássicos como Madame Bovary (Gustavo Flaubert); Lolita (Vladimir Nabokov); Ana Karênina (Tostoi); Dom Casmurro (Machado de Assis) e Amor e Erotismo – A Dupla Chama (Octavio Paz). A neurociência e a neurobiologia começam a desvendar as transformações cerebrais que ocorrem em uma pessoa apaixonada. Com as descobertas, uma pílula do amor pode matar a beleza da paixão. Prefiro os sonetos. De Camões, pai dos poetas da língua portuguesa: “Amor é um fogo que arde sem se ver; / é dor que desatina sem doer…” Do paulista Vicente de Carvalho: “Não me culpeis a mim de amar-vos tanto, / mas a vós mesma e à vossa formosura, / pois se vos aborrece, me tortura / ver-me cativo assim de vosso encanto…” Nesses tempos de pandemia, ouvia, no YouTube, Billy Preston, músico soul da década de 1960/70, em Tributo a George Harrison, um dos beatle, ele cantava: My Sweet Lord. Por instantes, ao fechar os olhos, pensei ouvir: My Sweet Love. Ao abrir os olhos, conclui que as várias formas de amor nos leva à transcendência.