Crônicas

Apenas um discurso medíocre…

Embora demonstrando uma certa segurança, alguns tentavam demonstrar que seria fácil prever, ou seja, nada poderia alterar o curso de nosso regime democrático.

Por: Wilson Márcio Depes em 13 de setembro de 2021

Criou-se uma tensão muito grande no país com o possível resultado das manifestações do 7 de setembro. Embora demonstrando uma certa segurança, alguns tentavam demonstrar que seria fácil prever, ou seja, nada poderia alterar o curso de nosso regime democrático. Não tão simples assim. Porém, o raciocínio não foge da realidade. Embora o presidente Bolsonaro tenha jogado todas as fichas no evento, bancando um cenário de comício dos velhos tempos, ele conta hoje com 24 por cento do eleitorado brasileiro, segundo a última pesquisa do Datafolha. Isso quer dizer tudo: ele precisava criar um suspense para produzir seu espetáculo para demonstrar o contrário, que está bem e que pode se reeleger. Utilizou todos os meios a sua disposição para trazer os eleitores à praça principal. E o fez, ninguém pode contestar. Seus seguidores são fiéis e apaixonados. No passado, quando a eleição era realizada através de cédulas, um velho fazendeiro aqui de nossa região, guardava os títulos de eleitor em sua casa. Antes e depois do pleito. Tinha como certo todos os dois mil votos do distrito. Ele era o rei e a lei. Fazia o que queria com seus colonos. Bolsonaro me faz lembrá-lo. E os filhos tentaram traçar o mesmo caminho. Porém, os tempos mudaram. E eles quebraram a cara.
O presidente alimentou uma midiática expectativa para seus dois pronunciamentos (o de Brasília e outro em São Paulo). Seus seguidores, quase fanáticos, foram ouvir o que sempre souberam: que só sai do Palácio morto. Uma retórica antiga. Prosaica. Mas que revela um espírito autoritário em desespero porque não tem como resolver as principais pautas do país: pandemia, desemprego, inflação, grave crise hídrica e energética, dentre outras. Aliás, diga-se, seus seguidores, por vezes fanáticos, não possuem sequer um tema para discutir, a não ser a corrupção do passado, que se repete hoje não só na vacinação, mas, sobretudo, com rachadinhas. Seus aliados de hoje, repulsados como material de campanha, daqui a pouco estarão longe para evitar que a rejeição dele os atinja.
O cenário do dia 7 serviu apenas para mostrar que o presidente sabe reunir seus seguidores, mas sequer possui um discurso para a nação. Quis fazer um espetáculo para mostrar que poderá ser reeleito, e que se deve desrespeitar a lei, como ele fará. Discursinho medíocre para o país e para o mundo. E contrário aos princípios que sustentam a democracia.