Crônicas

As coisas boas da vida

O nosso melhor cronista, Rubem Braga, descreveu as boas coisas da vida. Eu, em um arroubo de felicidade e lapso de humildade, lembrei-me do título da crônica Braguiana e relato minha preferência, uma coisa boa: o outro lado da Ilha de Vitória.

Por: Sergio Damião em 24 de agosto de 2023

O nosso melhor cronista, Rubem Braga, descreveu as boas coisas da vida. Eu, em um arroubo de felicidade e lapso de humildade, lembrei-me do título da crônica Braguiana e relato minha preferência, uma coisa boa: o outro lado da Ilha de Vitória. Atravessar a ponte e, durante seu trajeto, em seu ponto mais alto, admirar nosso monumento mais importante, Convento da Penha, e deslizar pelas areias da Praia de Itapuã. Com calma, e um final de semana, pensei nas outras coisas. Mesmo sem o açúcar, o doce, que o diabetes não me permite mais. Ainda assim, uma boa coisa é comer bem: não só matar a fome. Mas, a arte da degustação. Claro que, esse item, não é novo, nem original. Charles Dickens, escritor inglês, já alertava em Um conto de duas cidades, romance histórico, tendo como tema o povo revoltoso e faminto na revolução francesa. Também não é novo o discurso, tão insistente e crônico e ineficaz, em Brasília, pelo fim da fome. No sábado, pela manhã, em dia ensolarado, com a fome saciada, e bem próximo do fluxo e refluxo das ondas do mar de Itapuã, junto de suas areias brancas e finas, e nas sombras de suas castanheiras, lembrei-me de um lugar ameno: um assento na praça de um shopping. Uma cafeteria, uma mesa e um livro. Momentos de leitura e profunda concentração, ainda que as crianças, em sua inocência pueril, tornem seus gritos, uma tentativa de tormento. Voltando a Cachoeiro, uma boa coisa é admirar o rio Itapemirim preenchido em todo seu leito, logo após as chuvas. Não muito alto em seu nível, o bastante para produzir o barulho forte das águas correntes de encontro às pedras. Mesmo sem as chuvas, neste inverno, as aguas do Itapemirim encontram-se mais claras, uma beleza rara, algo que não evidenciei desde a última grande enchente. Suas aguas se assemelham a uma grande nascente. Algo que nos enche de esperança. Uma sensação semelhante a ida e vinda das ondas do mar de Itapuã. Pena que esta sensação do rio dependa, na maioria das vezes, das aguas das chuvas. Dependa do nosso padroeiro: São Pedro. De qualquer maneira, de todas as coisas boas que podemos ter, a melhor sensação, é o retorno à casa. Rever. Rever a pequena flor da varanda, se aquecer com o pequeno cobertor já gasto pelo tempo, o travesseiro… São coisas simples, mas nos fazem uma falta enorme.