Crônicas

Até quando?

Escrevo desde 1979, e a maioria dos meus textos se refere à condição da mulher na sociedade. Triste constatar a ausência de evolução concreta num país em que 52% da população votante é feminina.

Por: Marilene Depes em 14 de março de 2022

Escrevo desde 1979, e a maioria dos meus textos se refere à condição da mulher na sociedade. Triste constatar a ausência de evolução concreta num país em que 52% da população votante é feminina, e não temos quantitativo idêntico de mulheres que nos representam nos cargos de comando, tanto os políticos quanto empresariais. Pesquisa comprova que serão necessários mais dois séculos para a igualdade de gênero acontecer no mercado de trabalho, e mais de 100 anos para que desapareça a desigualdade na educação, na política e na saúde. Em 1827 as mulheres foram autorizadas a estudar além do primário, e há 36 anos recebi os pêsames do meu sogro quando comuniquei que minha filha ia estudar medicina, alegando que não era profissão de mulher. Neste ano comemoramos 90 anos do direito de votar, sendo que em todos esses anos a maioria das mulheres ainda vota a mando do marido, basta comparar o número de mulheres eleitoras com aquelas que se elegem – apenas 12% das prefeituras são ocupadas por mulheres.
Infelizmente o discurso machista foi entranhado de tal forma que além de não confiar, as mulheres julgam e criticam uma às outras, e talvez sem perceber se tornam massa de manobra, sendo impossível almejar uma evolução no debate de gênero pela ausência de aliança e solidariedade com as companheiras. Equidade de gênero não é apenas uma argumentação moral e social, muito além é uma questão de empatia e sororidade, isto é, um comportamento de aliança entre si como os homens a possuem, trata-se do não julgamento e aceitação das companheiras e a ausência de necessidade de arrasar com a reputação das outras para poder enaltecer à própria – o que demonstra o quanto ainda somos frágeis.
Por que não evoluímos na questão de gênero? Exemplifico a conversa com uma mulher que possui o segundo grau, inserida em todas as redes sociais e sabedora do que acontece no mundo, quando chamava a atenção da filha porque não tinha servido o almoço do irmão, ela com 16 e ele 14 anos. Perguntei porque o filho não arrumava a própria comida e respondeu que ele não sabia. E por que a irmã sabe? – Porque é obrigação dela. Questionei se o filho tinha tarefas em casa e ela disse que sim, ajudava a tirar a roupa do varal. Conversei, mostrei a desigualdade entre ambos, mas duvido que teve algum efeito, o machismo está entranhado de tal forma que talvez precisemos de mais de 100 anos para reverter o quadro. E enquanto aceitamos flores e bombons no Dia Internacional da Mulher, nossas companheiras são desrespeitadas, estupradas e assassinadas, e ainda são julgadas como responsáveis pelas atrocidades a que são submetidas. Dia Internacional da Mulher é dia de luta por direitos iguais.