Crônicas

Balzaquianas

A apaixonante vida do francês Honoré de Balzac (1799–1850) levou à criação da Comédia Humana e sua fama em toda Europa. Seus amores e os vários escândalos são mostrados pelo ator Gérard Depardieu em filmes produzidos pela Versátil e a Beta Film.

Por: Sergio Damião em 10 de abril de 2023

A apaixonante vida do francês Honoré de Balzac (1799–1850) levou à criação da Comédia Humana e sua fama em toda Europa. Seus amores e os vários escândalos são mostrados pelo ator Gérard Depardieu em filmes produzidos pela Versátil e a Beta Film. Um glutão, vibrante com as coisas belas da vida. Um apaixonado pela mulher da meia idade (para a época: trinta anos de idade, era a meia idade). Após o filme, pensei em uma balzaquiana atual. Encontrei, no corredor do hospital, uma mulher radiante de alegria. Demonstrava em gestos e expressões faciais toda sua felicidade. Um momento único, estranho até certo ponto, pelo lugar em que se encontrava. Encontrava-se em frente à sala de parto, normalmente um local carregado de dor das parturientes. Pela expressão assemelhava-se a uma menina em um jogo de amarelinhas, saltitando pelas linhas imaginárias, em busca da pequena pedra entre os espaços vazios no chão do quintal de uma casa antiga dos nossos avós. Era assim que se apresentava. Assemelhava-se à uma menina adolescente. Mas, não, não era uma menina, e sim, uma mulher aparentando entre cinquenta a sessenta anos de idade (a meia idade para os nossos tempos). Em sua mão uma folha de papel. Pensei em um teste de gravidez. Tratava-se de dosagens hormonais. Encontrava-se na menopausa. Questionei a alegria. Procurara preparar-se para aquilo que era inevitável, sua queda hormonal, e para tanto bastava a reposição. Pela expressão da mulher, pelo esbanjamento de alegria, pela confiança, não tive dúvidas, as balzaquianas mudaram, ganharam uma ou duas décadas e, no futuro, bem mais. Um segredo a se desvendar, o tesouro da vida na alegria. A expressão observada no corredor do hospital pode vir a dominar os homens. No embate biológico e cronológico os homens já estão perdendo. As mulheres tomam conta das finanças, dos filhos e da casa. Com o tempo não precisarão dos homens, seremos descartáveis. Pela segurança demonstrada por aquela mulher, mesmo com a baixa hormonal, corri e procurei fortalecer um músculo que a testosterona lentamente não mais consegue manter. Talvez seja melhor assim, menos músculos e mais sentimentos. Quem sabe a reposição do hormônio seja substituída, no futuro, por uma pitada de alegria. Ou mesmo, seja esta a explicação funcional do bem-estar. Bem como, a solução para se evitar o envelhecimento celular e o segredo de sua conservação.