Artigo

Biguás, Lambaris, Garças…

Eu não me canso de sonhar quando me encontro em frente ao rio Itapemirim, Pico do Itabira e o Frade e a Freira. Diminui dores e tristezas das lembranças de um fim de dia em hospitais. Acordo cedo e na sacada do apartamento permaneço por alguns instantes entre sombras e luzes do alvorecer. G

Por: Sergio Damião em 22 de junho de 2021

Eu não me canso de sonhar quando me encontro em frente ao rio Itapemirim, Pico do Itabira e o Frade e a Freira. Diminui dores e tristezas das lembranças de um fim de dia em hospitais. Acordo cedo e na sacada do apartamento permaneço por alguns instantes entre sombras e luzes do alvorecer. Gradativamente o movimento de carros e as badaladas do sino interrompem o instante: seis horas. Hora para o trabalho. Um novo dia para a vida. Hora da máscara, protetor facial, álcool em gel… Curioso como as águas do Itapemirim ficam mais claras nesses meses do outono, apesar da dependência da ajuda de São Pedro. Acho que o santo padroeiro cachoeirense não anda muito satisfeito com as coisas do Brasil. Ainda assim, São Pedro não perde a esperança com a cidade, e envia, de tempos em tempos, uma enxurrada, para a alegria dos pescadores. Eles conhecem bem os animais silvestres que habitam o rio. Conhecem o Biguá, Macaco Barbado, Sapo de Chifre, Coleiro, Lontra, Robalo, Paca, Chauá, Jaguatirica, Tucano de Bico Preto. Sobre o rio, eles contam: O rio melhorou nos últimos anos, as águas encontram-se mais limpas, de barco alcançamos a Usina Paineiras e a proximidade do mar. A Garça é a preferida, branca ou cinza, uma ave que faz companhia ao pescador, aguarda, de longe, pacientemente, que seja oferecido o peixe; diferente é o Biguá, gosta de competir com o pescador na busca do peixe, busca preferencialmente o Viola, um peixe que se assemelha a um pequeno Cascudo; com tristeza lembram-se da diminuição do Lambari (Piaba), um peixinho que anima uma boa conversa em uma mesa de bar. No nosso rio abundam ainda a Tainha, Traíra, Tilápia e Grumatan. Não me canso de sonhar os sonhos dos pescadores da beira do rio Itapemirim. Sonhos sobre o Biguá, a ave aquática preta e de dorso cinza. Sua beleza, reluzente na cor escura, incita São Pedro a enviar as chuvas e pedir aos pescadores do Itapemirim que lembrem a todos que as chuvas e o sol logo em seguida são para a alegria dos seres vivos, humanos ou não, independente da cor. Com as chuvas de São Pedro, e na prosa dos pescadores do lambari, nunca me cansarei de sonhar pela chegada da alegria e liberdade de homens e mulheres de todas as cores de pele.