Crônicas

Cachoeirense

Quando criança eu cantava: “Eu sou capixaba. Capixaba da gema do ovo...” Um Samba Enredo da Escola de Samba Novo Império, uma escola do meu bairro, em Vitória.

Por: Sergio Damião em 17 de julho de 2023

Quando criança eu cantava: “Eu sou capixaba. Capixaba da gema do ovo…” Um Samba Enredo da Escola de Samba Novo Império, uma escola do meu bairro, em Vitória. Cantava com orgulho. Na letra, e melodia, dizia mais: falava das belezas do nosso Estado. De todo o Espírito Santo, de norte ao sul. Nesse mês de julho, dias após o solstício de inverno abaixo da linha do Equador, dias após as comemorações dos nossos santos: Antônio, João e Pedro, que me faz lembrar coisas passadas. Mas, como ia dizendo, sou capixaba. Ser capixaba é: frequentar, em fim de semana, uma praia; assistir o pôr do sol do Morro do Moreno, em Vila Velha, e admirar o fim de tarde com seus últimos raios do sol por cima da Terceira Ponte; gostar de caranguejo; apreciar o visual do mar da Ilha do Boi, Itapuã… No fim da leitura fiquei com a impressão, que em dias atuais, sou menos capixaba e mais cachoeirense. Cachoeirense, segue à risca a geografia da cidade. Os pontos iniciam-se no Itabira, segue as pedras do entorno do Vale em direção ao rio. Uma geografia bem delineada nas curvas do Itapemirim. Ser cachoeirense é bem mais que ser capixaba. Guarda um leve ufanismo pela geografia e águas do seu rio; orgulha-se do passado histórico, apesar da perda do glamour de uma cultura elevada e poderio econômico. Mesmo com as perdas, permanece o Hino da Cidade, um hino que encanta e faz crer que as coisas aqui deixadas, e presentes, fazem diferenças. Hino empolgante que anima a alma do seu povo, algo não existente nos mais de cinco mil municípios pelo Brasil afora. Ser cachoeirense é se encantar pela estátua do poeta (Newton Braga) em sua praça principal; admirar a fachada histórica da Santa Casa e Palácio Bernardino Monteiro e nunca se esquecer das cores dos seus dois times (Estrela e Cachoeiro Futebol Clube). Ser cachoeirense é não gostar de sinais de trânsito e de calçadas; invadir o litoral e preencher, com alegria, as areias das praias; admirar as piscinas naturais e cachoeiras em torno de suas grandes pedras; almoçar em família; caminhar à beira do Itapemirim; adorar um bom papo nos botecos pés sujos… O cachoeirense é assim: quieto em seu ninho e adora os cantos de sua casa. Solidário ao extremo. Segue confiante na recuperação econômica e cultural, pois, o principal permanece: o amor pela terra em que vive. Ser cachoeirense, é viver em qualquer ponto do país, ou do mundo, mas quando em seu fim, solicitar para que suas cinzas sejam derramadas nas águas do rio Itapemirim.