Crônicas

Chico lavou minha alma

Inclusive o presidente português declarou, em seu discurso, que a homenagem não fora concedida posteriormente a nenhum literato, e que só retornaria a concessão após a premiação de Chico Buarque ser efetivada.

Por: Marilene Depes em 8 de maio de 2023

Fiquei bastante emocionada com a homenagem que Chico Buarque recebeu do governo português, a maior a ser concedido à escritor de língua portuguesa, o Prêmio Camões. O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, e o presidente Lula assinaram o diploma em conjunto, aquele que o presidente brasileiro anterior se negara a fazê-lo. Inclusive o presidente português declarou, em seu discurso, que a homenagem não fora concedida posteriormente a nenhum literato, e que só retornaria a concessão após a premiação de Chico Buarque ser efetivada, em respeito ao que ele representa para a cultura de língua portuguesa.

Quando Lula venceu a eleição, em seu primeiro discurso ele citou o prêmio Camões e a desfeita que fora feita a Chico Buarque, que independente da sua orientação política é um grande compositor e escritor, aliás, Chico é o maior compositor vivo da nossa música!

a história de paixão pelas músicas de Chico remonta ao tempo dos festivais, quando ele ficou conhecido nacionalmente. Na faculdade algumas letras foram estudadas pela perfeição das métricas e rimas, como a de Construção em que ele resume toda a história, sociologia e antropologia do brasileiro, ao narrar a vida e exploração dos trabalhadores nos canteiros de obras. Enfim Chico traduz o Brasil em seus versos como em Gente Humilde, com Paratodos homenageia os colegas músicos e em dezenas de letras reverencia as mulheres, sua grande inspiração.

Poderia descrever música por música, mas hoje cito o Chico que lavou minha alma ao receber sua merecida homenagem com quatro anos de atraso, e em discurso primoroso destacou a influência do pai, Sergio Buarque de Holanda, também escritor, em sua obra: “Recebo este prêmio menos com uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados, ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”. E agradeceu ao ex-presidente pela rara finesa em não ter assinado o seu Prêmio Camões. Sou cronista, com mais coragem e teimosia do que mérito, e me sinto também contemplada por suas palavras. Marilene De Batista Depes.