Crônicas

Chove chuva

Chove sem parar há dias, para alguns prejudicando finais de semana e feriados, para a maioria consciente uma benção dos céus após longa estiagem e diante da possibilidade de racionamento de água e luz

Por: Marilene Depes em 19 de outubro de 2021

Chove sem parar há dias, para alguns prejudicando finais de semana e feriados, para a maioria consciente uma benção dos céus após longa estiagem e diante da possibilidade de racionamento de água e luz, e do aumento ainda maior de tarifas já tão elevadas. Gosto de apreciar a chuva escorrendo pelo telhado, de assistir as gotículas caindo sobre as plantas, e aprecio o verde se sobressaindo após meses de ressecamento do solo e da vegetação. Há dias observo as nuvens carregadas e o despejar das águas sobre o jardim e fico imaginando a alegria do homem do interior que plantou as sementes e se angustiava pela falta de brotação. Só me preocupa quem reside em encostas e áreas de risco, além dos ribeirinhos.
Como sou do interior, acho que trouxe para a vida adulta o entendimento do que a chuva representa para a natureza. Em nossa casa era feita a coleta da água das chuvas em baldes e latões e ela era usada com respeito e reverência por toda família, como se possuísse dons até curativos. Hoje existem processos modernos de captação das águas das chuvas, que é utilizada posteriormente como medida de economia. Na Vila Aconchego toda a água utilizada, exceto para beber e cozinhar, vêm de poços artesianos e a ausência das chuvas colabora para que sequem os lençóis freáticos e consequentemente os poços. E há um córrego que atravessa toda a Vila e que estava praticamente seco há alguns meses e com que prazer observamos uma forte corrente de água descendo pelo seu leito. O córrego que atravessa a Vila é o Amarelo, que desemboca no rio Itapemirim, na altura da casa dos Braga, e lemos em crônicas que nele Rubem tomava banho e pescava, e hoje temo pelo seu futuro, já que a cada ano diminui a força das suas águas. E me entristece saber que havia, há alguns anos, no morro atrás da Vila, uma nascente que brotava entre pedras e a vegetação nativa e esta desapareceu.
Me preocupo com o desmatamento, com a falta de respeito com a natureza, e sou consciente que somos culpados por quase todas as tragédias naturais que acontecem no mundo: enchentes, secas, queimadas, desmatamentos, poluição, tsunamis, vendavais e muito mais, além do acréscimo da temperatura global, o deslocamento das calotas polares e o consequente aumento do nível do mar, o que testemunhamos da varanda da nossa casa em Marataízes. E enquanto penso e rejeito a ignorância dos negacionistas, continuo apreciando a chuva que é uma benção, que traz vida e que transforma a natureza. E que nos coloca diante do Criador em atitude de humilde agradecimento.