Crônicas

Curtos e Circuitos…

Há algum tempo tenho pensado em escrever sobre as mudanças que a vida vem proporcionando. Um misto de saudade e agonia me fez contemporizar. Olho para os meus velhos CDs, enfileirados na estante, e sinto uma agonia.

Por: Wilson Márcio Depes em 17 de novembro de 2021

 

Há algum tempo tenho pensado em escrever sobre as mudanças que a vida vem proporcionando. Um misto de saudade e agonia me fez contemporizar. Olho para os meus velhos CDs, enfileirados na estante, e sinto uma agonia. Cada um tem sua história própria. Mas eles estão lá, impávidos, mas sós. Vez por outra eu os acaricio. A tecnologia já os tornou obsoletos. Mas suas histórias, confesso, não. Ziraldo sempre me dizia que tinha horror ao saudosismo. Aí eu fico pensando se estou sendo saudosista. Vou ao dicionário buscar socorro: tendência, gosto fundado na valorização demasiada do passado; fidelidade a princípios políticos, ideais, usos e costumes que já não são aceitos. Tive a semana passada em São Paulo. Por acaso, lá encontrei, pelas redes, uma amiga que não via há 30 anos. Lançava um livro sob o título de “Curtos e Circuitos”. Cuida o livro: diante das pressões da vida, dos afetos, do capitalismo, 7 personagens chegam a situações limite que alteram suas formas de ser e os levam, cada um à sua maneira, a partir em uma viagem emocional particular e muito peculiar.
Olha aí mais uma dúvida sobre o saudosismo. Mas, na outra ponta, Walcyr Carrasco diz que “ser do tempo da máquina de escrever não me assusta mais. Já é objeto de museu. De colecionador. Até seu sucessor, o computador de mesa, está com seus dias contados”. Queria ser como ele, que já está se preparando para o desaparecimento de tudo o que o cerca. E até de tudo o que o vai cercar daqui a 10 anos. Ele acentua que “o mundo em que eu nasci era estável. O de hoje se transforma o tempo todo. Inclusive o que parece imutável mudará”. Realmente tudo muda. Em minutos o mundo fica obsoleto. Melhor dizendo: a vida se torna arcaica a cada segundo. Mas o novo vai surgir. Pra ele, isso é fascinante, ou melhor a vida fica mais fascinante. A realidade seria deliciosamente instável.
Confesso. Pra mim não é assim. Sou da escola do velho Braga. Por mim escreveria novamente outro livro sobre os personagens curiosos de nosso Cachoeiro. Como, por exemplo, Moringueiro, que consegue povoar as recordações de Roberto Carlos, até hoje. Ou, como nosso maior cronista, “são dezenas, centenas de lembranças graves e pueris que desfilam sem ordem, como se eu sonhasse. Entretanto uma parte desse mundo perdido ainda existe e de modo tão natural e sereno que parece eterno; agora mesmo chupei um caju de 25 anos atrás …”.
Na dúvida, fico ainda com o velho Braga…