Crônicas

Dom Tonico

Desde o século passado, a população afasta-se dos campos e ocupam as cidades. Ocupamos todos os espaços e inclusive os morros. Não importa as condições, viveremos e morreremos nas cidades.

Por: Sergio Damião em 19 de julho de 2021

Desde o século passado, a população afasta-se dos campos e ocupam as cidades. Ocupamos todos os espaços e inclusive os morros. Não importa as condições, viveremos e morreremos nas cidades. Uma opção da sociedade moderna. Porém, sempre encontraremos um cantinho para cada um de nós. São as coisas e lugares que identificam uma cidade. São as coisas que nos faz criar raízes e vínculos, coisas que fazem diferenças. Vivemos melhores com elas. Quando uma dessas coisas ou pessoas deixa de existir, sentimos falta. Uma saudade se apresenta. Nesses meses de pandemia do coronavirus – SARS – CoV-2, nos almoços de fim de semana, sinto falta do Dom Tonico. Por muitos anos, uma referência de restaurante de qualidade. Em 15/6/2014 foi seu último dia. Um domingo triste. Um domingo de despedidas. Mas, algo esperado, ano antes, já se anunciava. Ano antes deixara de funcionar à noite. A falta de segurança, assaltos frequentes, não permitia sua abertura nas noites cachoeirenses. Tempos depois, perdemos a Dilma, a proprietária. Perdemos as companhias e a comida leve e saudável; a carne branca e vermelha bem servida; o sal e açúcar na dose certa e verduras coloridas. A mesa do restaurante parecia uma extensão da cozinha e sala das nossas casas. A Dilma sabia o tempero exato de cada prato e Tonico uma boa história para nos contar. Aos domingos, sem o restaurante Dom Tonico, quando o sino da Consolação badala, acordo triste, pois, parte da nossa história, e de vida, deixou de existir. Mas, quando entristeço com as coisas da nossa cidade e de todas as outras cidades do nosso país, penso no lugar onde nasci e cresci, busco as coisas boas que trago da infância e adolescência: o pastel de carne ou queijo com caldo de cana servido em pastelaria no centro de Vitória que o meu pai me presenteava quando atingia a aprovação escolar; o pudim e o fundo da lata de leite condensado que minha mãe reservava para mim como prêmio pela melhor nota no Grupo Escolar; a caixa de chocolate Garoto com o bombom serenata e crocante recebido no aniversário de anos de vida; a moqueca de peixe que minha mãe fazia sem nunca precisar da panela de barro; o frango ao molho pardo com batata inglesa dos domingos…