Crônicas

E Raul Sampaio se foi

Tornei-me amiga de Raul tardiamente, através de uma entrevista no programa “ Entre Elas”. Daí em diante criamos afinidade, eu os visitava frequentemente e na sua simplicidade Raul me tratava com se a figura importante fosse eu e não ele.

Por: Marilene Depes em 7 de fevereiro de 2022

Tornei-me amiga de Raul tardiamente, através de uma entrevista no programa “ Entre Elas”. Daí em diante criamos afinidade, eu os visitava frequentemente e na sua simplicidade Raul me tratava com se a figura importante fosse eu e não ele. Possuía uma humildade cativante, ao mesmo tempo que falava do passado glorioso, não demonstrava nenhum orgulho ou prepotência.
Seu tema predileto era sua filosofia religiosa, o espiritismo, e certa vez foi conhecer a Vila Aconchego e me presenteou com O Livro do Espíritos, de Allan Kardec, com a seguinte dedicatória: “A estimada cronista esta obra monumental que, esclarece e dulcifica, abrindo aos olhos dos homens as portas da imortalidade”. E também me ofertou cópias de partituras que guardo como relíquia.
Após a morte da sua esposa Morena sua saúde começou a debilitar, por algumas vezes intermediei suas internações e me encantava sua confiança e reconhecimento. Acompanhar seu quadro de saúde ir se agravando não foi agradável, principalmente porque ele mantinha a lucidez, e a manteve até o fim, segundo seu filho. Nos dois últimos anos, por conta da pandemia, rareei minhas visitas, e hoje analiso que também por covardia. Não queria testemunhar a realidade da finitude do amigo querido.
Em 2018, quando Raul completou 90 anos foi sugerido ao Prefeito Victor Coelho que o homenageasse na Festa da Cidade, o que foi acatado exatamente como Raul merecia. E agora com sua morte leio homenagens emocionantes a seu respeito em todos meios de comunicação. De muitas autoridades, amigos e artistas como Roberto Carlos – que gravou a sua composição que tanto dignifica Cachoeiro.
De tudo que foi publicado a respeito do grande músico com mais de 400 canções compostas, o que mais se destaca é o grande ser humano e seu exemplo de vida. O jornalista Sergio Neves imaginou “uma Republica Celestial da Capital Secreta, com Ruy Guedes, Helvécio, Waldir Pingão acionando o pessoal. Mercedão, Fandonga e seu Raul convocando a 26 de julho e Moema Baptista organizando tudo para recepcionar o ilustre convidado, que é recebido pelo padroeiro que diz assim: – Bem vindo de volta meu filho. Você cumpriu sua missão”! E outro jornalista, Sergio Garschagen, se derrama de emoção ao narrar as circunstâncias da composição do Meu Pequeno Cachoeiro, quando Raul viajava de ônibus de Cachoeiro para o Rio. Sérgio cita Raul como “brilhante, simples, agregador e dotado de um sopro divino da humildade concedido democraticamente por Deus às grandes personalidades”.
Agora cabe ao Município, em reconhecimento, esculpir Raul Sampaio tocando seu violão, sentado num banco da Praça Jerônimo Monteiro.