Crônicas

Entre livros e flores

Em terras gaúchas, por conta da pandemia do SARS-CoV-2 (Covid-19), os supermercados foram proibidos de comercializarem produtos supérfluos, ditos não essenciais.

Por: Sergio Damião em 22 de novembro de 2022

Em terras gaúchas, por conta da pandemia do SARS-CoV-2 (Covid-19), os supermercados foram proibidos de comercializarem produtos supérfluos, ditos não essenciais. E, por isso, nos locais de produtos de decoração e floricultura, as flores foram cobertas. Fiquei intrigado com a notícia e lembrei que na minha adolescência, os livros, ou vários livros, além de proibidos, eram de difícil acesso. Ficava como estou agora, perdido e estupefato. Há um ano, no Brasil, foi lançado: Notas sobre a pandemia de Yuval Noah Harari, autor de Sapiens e Homo Deus. De tudo que escreveu, chamou a atenção: “O maior risco que enfrentamos não é o vírus, mas os demônios interiores da humanidade: o ódio, a ganância e a ignorância. Se assim reagirmos, será muito difícil lidar com a crise atual, e o mundo pós-covid-19 será um mundo desunido, violento e pobre.

Mas não há necessidade de reagir propagando ódio, ganância e ignorância. Podemos reagir gerando compaixão, generosidade e sabedoria.” Também, no início de 2020, li o Vendedor de passados, do angolano José Eduardo Agualusa. Um dialogo me marcou: “E você, é feliz?/ Eu estou finalmente em paz. Não receio nada. Não anseio nada. Acho que a isto se pode chamar felicidade. Sabe o que dizia Huxley? A felicidade nunca é grandiosa./ O que vai ser de si?/ Não faço ideia. Provavelmente serei avô.” Dias depois nasceu João Vitor, meu segundo neto. Na ocasião, conheci a história de Paulo Rónai, refugiado húngaro que se torna o maior decifrador do universo de Guimarães Rosa. Recentemente me deslumbrei com o primeiro romance da história ocidental: Quéreas/Calírroe. Após um ano da pandemia, recebo A Alma perdida da polonesa Olga Tokarczuk: “Se alguém pudesse nos olhar do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que andam apressadas, suadas e exaustas, e também veria suas almas, atrasadas e perdidas no caminho por não conseguirem acompanhar seus donos. E isso cria uma grande confusão. As almas perdem a cabeça e as pessoas deixam de ter coração. As almas sabem que ficaram sem seus donos, mas as pessoas muitas vezes nem sequer percebem que perderam a própria alma.” No reencontro da alma com seu dono, dos relógios nasceram belas flores coloridas e das malas de viagens brotaram grandes abóboras com as quais o homem se alimentou durante os invernos.