Crônicas

Espetáculos

Observar mudanças de estações nos faz diferentes. As lembranças e a memória não se apagam, mantem-se em algum lugar do cérebro.

Por: Sergio Damião em 25 de julho de 2022

Observar mudanças de estações nos faz diferentes. As lembranças e a memória não se apagam, mantem-se em algum lugar do cérebro. Nos defendemos muito bem contra os pequenos invasores que nos trazem estragos infecciosos, mas muito mal das lembranças que nos provocam rupturas sentimentais e nos levam a mudança comportamental, familiar e social. Bem, mas este é outro assunto. Estamos em meio de ano, e diferente de anos passados, resolvi que este seria de outro modo. Um meio de ano de esperança. Mesmo sabendo que os homens se comportam como em um Seminário de Ratos – conto da Lygia Fagundes que descreve com maestria a preocupação dos seres humanos com a aparência, com sua própria satisfação e bem estar. Desperdiçando o dinheiro público em obras desnecessárias, mantendo a intolerância e desqualificando a opinião alheia. Permanecendo cegos e surdos enquanto os ratos vão consumindo sua moradia. Tempos atrás, apesar da Lygia, e do conto, me surpreendi com a natureza. Da natureza vem nossas melhores surpresas. Foi o que fiz em um sábado à tarde. Em torno da bola, em um campo de futebol, presenciei uma nuvem ao longe. De repente nos invadiu, atingindo em cheio nossos corpos, encharcando corpos suados e cansados. Instantes depois, coisa de minutos, o sol apareceu num colorido surpreendente. A cidade iluminou-se, um toque alaranjado em plena tarde, até então cinzenta. Acima do Itabira formou-se um arco de cores – um arco-íris. As cores eu não vi com nitidez, não tive a percepção devida, pois procurava pelo pote de ouro em seu final. Ao voltar a atenção na imagem descrita pelos demais, lamentei a perda do encantamento. As imagens descritas me fizeram voltar no tempo, tempo que procurava menos o ouro e mais as cores no céu. E através das lembranças voltei ao arco-íris da minha infância. Voltei ao arco de cores cintilantes que se formava na Pedra do Monchuá, em Cariacica, do outro lado da Ilha de Vitória. Admirava, as várias cores, do alto do morro do bairro onde morava, Santo Antônio. Ainda garoto, gostava de assistir o desenho do arco de cores variadas sobre a grande pedra. A descrição do espetáculo fica por conta da percepção de cada um. Depende do momento de vida. Depende… A natureza não se importa, continua nos presenteando. Em todos os momentos, mesmo naqueles em que menos esperamos.