Crônicas

Estética opressora

Pobres de nós, mulheres do ocidente, que nos vangloriamos de não nos submetermos ao jugo de religiões fundamentalistas, mas, que na verdade, estamos nos cobrindo com uma burca invisível.

Por: Marilene Depes em 24 de julho de 2023

 

Em entrevista, a mãe de uma celebridade confessa que aos quarenta e poucos anos parou de usar batom vermelho para não ser comparada à filha, ou a pessoas de idade semelhante. Em outra reportagem algumas consultoras de moda aconselham as mulheres de idade superior a 50 anos a se vestirem num padrão mais condizente às mulheres afegãs, para que possam ser consideradas elegantes e distintas.

Pobres de nós, mulheres do ocidente, que nos vangloriamos de não nos submetermos ao jugo de religiões fundamentalistas, mas, que na verdade, estamos nos cobrindo com uma burca invisível, até mais opressora que a usada pelas orientais. Pobre de nós, que em nome da elegância somos obrigadas a usar roupas que cubram nossas pernas, braços e pescoços, porque após certa idade não possuímos mais o viço da juventude, como se beleza fosse a única qualidade e medida de valor inerente à mulher. Pobre de nós mulheres, obrigadas a seguir padrões estéticos impostos, e além do mais, algozes umas das outras, quando comentamos de forma irônica sobre as celulites expostas nos braços e pernas das companheiras.

Neste quesito, os homens levam vantagem, pois envelhecem com maior naturalidade e aceitação. Não se envergonham de expor barrigas protuberantes, e muitos até se orgulham delas, alegando que foi necessário muito churrasco e cerveja, para que atingissem tal envergadura.

A estética e a elegância merecem ser admiradas, desde que não se transformem em instrumentos de opressão. E a arma mais usada é a crítica, e sem querer, vamos fazendo o jogo que interessa a quem pretende oprimir. Pobres de nós, mulheres, que acatamos a burca invisível sobre nosso corpo e espírito. Pobres de nós, quando não aprendemos a nos amar e valorizar, seja lá qual for a nossa realidade. É muito fácil virar massa de manobra, quando não há autoestima.

E vivam os nossos braços nus, os nossos batons vermelhos, as nossas roupas coloridas, a nossa espontaneidade e alegria de viver, pois nós embelezamos, cada uma do seu jeito, esse maravilhoso mundo de Deus, onde somos exatamente iguais em nossas diferenças.