Crônicas

Ficção e realidade

Difícil distinguir entre ficção e realidade ao assistir o filme que está mobilizando audiências nesse início de ano.

Por: Marilene Depes em 25 de janeiro de 2022

Difícil distinguir entre ficção e realidade ao assistir o filme que está mobilizando audiências nesse início de ano. Roteiro com capacidade de causar repercussão em dimensão global, eis o motivo principal do sucesso do filme “Não olhe para cima”. O script trata da descoberta, por dois astrônomos, de um cometa que se direciona à Terra e que irá atingi-la em seis meses, e cujo impacto a destruirá. Munidos de documentos comprobatórios eles procuram as autoridades à fim de pedirem providências. Contudo não são ouvidos, elas estão envolvidas em escândalos e preocupadas com a eleição que se aproxima. E preferem não alarmar o povo, este já massacrado por problemas como a crise econômica, o desemprego, as questões climáticas, entre outros.
Os cientistas já desesperados tentam divulgar a descoberta num grande canal de televisão, e constatam que o entretenimento não pode ser prejudicado pela informação catastrófica, são tratados com galhofa e a partir daí só encontram resistências, o povo está interessado no imediatismo, nas informações fúteis das redes sociais, nas selfies, e a autoridade maior coloca os interesses pessoais e econômicos acima do interesse da nação. É um filme que dá para refletir bastante a respeito do que se vive no mundo, e infelizmente os negacionistas não irão assisti-lo, provando mais uma vez a realidade repleta de fake news, anti-ciência e líderes populistas.
Confiantes, na capacidade de repercussão, aguardamos a filmagem do maior fato histórico deste país nos últimos tempos, que foi a CPI da Covid. Através dela o povo pode tomar conhecimento da veracidade em torno da pandemia, da compra das vacinas e de tudo que se mantinha acobertado. Tentou-se desvalorizar sua importância com alegações de que todas as CPIs terminam em pizza, que ela era presidida por políticos de passado sujo e daí em diante, mas nada disso teve significado tão positivo quanto das pessoas de bem, cientistas e técnicos dando seus depoimentos esclarecedores. E sobre as consequências, já nem são tão relevantes quanto a verdade nua e crua que foi apresentada à nação.
Finalizo com a fábula do burro, do tigre e do leão. O burro teimava com o tigre que a grama era azul, e como o tigre contestava, resolveram procurar o leão que era rei e sábio. O burro chegou aos berros, e o leão concordou com o burro de que a grama era azul e ele saiu satisfeito. O tigre questionou o leão e esse sabiamente disse que é perda de tempo discutir com o burro, pois esse está tão convicto de sua opinião, baseada em informações equivocadas, ódio e fanatismo, que se tornou cego. Quando a ignorância grita seus argumentos, a inteligência sabiamente cala e se afasta.