Crônicas

Final de ano

Por conta do sol escaldante as mangas estão amadurecendo antes do tempo, e com elas todas as frutas de verão se antecipando. As tempestades completam um panorama não muito acolhedor, mas fazem parte da paisagem no contexto do verão.

Por: Marilene Depes em 23 de dezembro de 2022

Parece-me que o final do ano vai se antecipando cada vez mais. São previsões que se concretizam de forma objetiva, como um calor insuportável que chega sem sobreavisos e as acácias e flamboyants que começam a soltar suas flores e exalam um cheiro diferente no ar. Por conta do sol escaldante as mangas estão amadurecendo antes do tempo, e com elas todas as frutas de verão se antecipando. As tempestades completam um panorama não muito acolhedor, mas fazem parte da paisagem no contexto do verão.

Além das mudanças na natureza, o homem também vem atuando no sentido de antecipação. Recordo-me que adorava o final do ano para levar meus filhos aos shoppings para apreciar a decoração de Natal. Hoje os lojistas nem esperam novembro para decorar suas lojas com motivos natalinos. O que era reservado para o mês de dezembro, tanto se antecipou que está perdendo a graça. Uma decoração por mais de dois meses faz com que se perca o interesse por ela e nem sei se o retorno comercial compensa.

Também não sei se o consumismo em excesso está desvirtuando o verdadeiro sentido do final do ano e das Festas Natalinas. E por conta do calor, parece-me que há uma ansiedade e angústia tomando conta das pessoas, preocupadas exageradamente com o ano que chega ao fim sem ter pedido licença, e pegando as pessoas desprevenidas, muitas de bolsos vazios.

Pertenço à outra geração, que viveu cada momento no seu tempo e em seu lugar. Janeiro era mês de férias, fevereiro de Carnaval, março se retornava às aulas, maio era um mês essencialmente religioso dedicado a Maria, junho era mês das comemorações juninas e festa da cidade, que para as crianças tinha muito significado, afinal ela era direcionada especialmente à elas, com os desfiles, os parques e as barraquinhas que encantavam a gurizada, sem mega shows específicos só para adultos. Em Julho novamente férias, em agosto retorno às aulas e o mês que se sentia alívio quando acabava, pois se imaginava que reservava algum desgosto, que nem se sabia qual!

Em setembro chegava à primavera com suas flores. Como não havia floriculturas com flores sendo vendidas o ano todo, a primavera era aguardada para colocá-las nos vasos e nas varandas das casas. Em outubro e novembro o tempo de estudar bastante aguardando as férias e o tão esperado final do ano, com tudo que bom que representava: – presentes, alegria, ceia de Natal, presépios e Papai Noel. Visitar os presépios das igrejas fazia parte do turismo religioso familiar. Agora misturou tudo, festa junina até em agosto e Natal começando em outubro, e eu aqui tentando me adequar sempre, para não parecer retrógrada. E afinal, Natal chegando com todo seu significado, famílias se reunindo e o coração repleto de amor e acolhimento. O encantamento do Natal felizmente permanece vivo!