Crônicas

Flamengo: minha paixão

No último final de semana voltei a me emocionar. Tarde de domingo, hora em que a saudade nos apresenta sua face mais perversa. Tarde de Fla x Flu no Engenhão. E o Flamengo virou espetacularmente um jogo praticamente perdido.

Por: Sergio Damião em 21 de fevereiro de 2022

No último final de semana voltei a me emocionar. Tarde de domingo, hora em que a saudade nos apresenta sua face mais perversa. Tarde de Fla x Flu no Engenhão. E o Flamengo virou espetacularmente um jogo praticamente perdido. Das paixões fica a recordação de infância. O mais velho dizia: se existe uma partida de futebol, deixo o amor para depois. Bem… Não foi o que aconteceu no jogo de futebol. Relatei o sonho, de domingo à noite, logo após a peleja. Mesmo admirando todo bairrismo do confrade cachoeirense Wilson Marcio Depes, revelado em seus livros de Fotocrônicas, livros que permitem conhecer toda sua inteligência e bom gosto; mesmo apaixonado pela moqueca capixaba, que dependendo do tempero e de quem cozinha dispensa a panela de barro, o que não diminui minha admiração pelas Paneleiras de Goiabeiras; apesar de adorar a torta capixaba e saber que nossos colibris são os mais bonitos. Ainda assim, no futebol, entre todos do mundo, o futebol carioca é o mais emocionante. Mais ainda quando o Flamengo está presente. Somos uma Nação de flamenguistas apaixonados. Dos personagens do Wilson Marcio, Geraldo Babão concordaria comigo. Em uma tarde de domingo ele faria o que me deu vontade, pelas ruas de Cachoeiro gritaria: Mengo… Mengo… Mengo. Mas me contentei com os versos de Manuel Bandeira: “A noite / O dormir é como ponte / Que leva de hoje a amanhã: / Por debaixo, como um sonho, / A água passa, e passa a alma”. Com a alma passada voltei às Fotocrônicas, a leveza do papel e a beleza das fotos foram desfraldando o restante dos personagens cachoeirenses do Wilson Marcio. Não esquecerei Pedro (pedreiro) Reis, um dos mais dignos que conheci em minha chegada a cidade de Cachoeiro; do Alcenir, nosso Pelé, o qual não conheci; e a lenda do Frade e a Freira. Mas não pude conter a emoção ao reler o livro Flamengo é puro amor, de José Lins do Rego, nosso grande romancista e primeiro cronista esportivo, bem antes de Nelson Rodrigues. Livro que recebi do Higner Mansur (um tricolor carioca). Em crônica de 1946, Jose Lins, do Fla x Flu nos conta: “Restaram os dois grandes de sempre. O aristocrático das Laranjeiras, com o luxo das suas rendas de fidalgo, e o rude, o desmedido, o sem medo, o impávido, quase que louco, o generoso e bom Flamengo, o c1ube de todo o Brasil.” No domingo, à noite, embora triste com a derrota do flamengo, sonhei com as glórias futuras.