Crônicas

Flor do deserto

Decidi pela exuberância rústica da flor do deserto, algo estranho, pois apesar da aparência do vaso em que se encontrava e da organização da areia e pedregulhos..

Por: Sergio Damião em 25 de outubro de 2020

Anos atrás, no dia das mães, dei de presente para Fabiola, minha esposa, mãe dos meus filhos, Helomar e Vitor, uma planta. A escolha foi feita em floricultura de Vila Velha, localizada sob a terceira ponte, em uma parte bonita das duas cidades, tendo como destaque a baía de Vitória e o Convento da Penha no morro Canela Verde. Decidi pela exuberância rústica da flor do deserto, algo estranho, pois apesar da aparência do vaso em que se encontrava e da organização da areia e pedregulhos, da haste de 30 a 40 cm e sua cor vibrante, suas extremidades não apresentavam receptáculos e, assim, nada indicava o aparecimento de órgãos florais. Resolvi confiar, pois a floreira garantiu, a flor aparecerá, basta muito sol. A flor, ainda que solitária, nascerá. Bom… Pensei. Em Cachoeiro, na sacada do apartamento, sol pela manhã e por todo o dia, não faltará. Ela disse mais: o consumo de água é pequeno, basta regá-la uma vez por semana. Foi o bastante para a decisão final, vou levá-la. Em Cachoeiro, a flor do deserto desabrochará. Passaram-se alguns dias, quase mês, a floração não aconteceu. Pela manhã, bem cedo, procurava a sacada do apartamento e a planta. Apesar da beleza diferente, a flor que tanto esperava não acontecia. Com angústia à flor da pele, dia após dia, antes do alvorecer, buscava a planta e nada diferente encontrava: nenhum sinal da floração. Pensei em desistir, mas logo retornei à sacada do apartamento e me deparei com o sol forte cachoeirense. A flor do deserto parecia exercitar a paciência, pensei melhor, resolvi esperar. Dias depois, em uma manhã, eram três brotos. Durante o dia: sol forte. À noite um dos brotos desabrochou e uma linda flor se apresentou. Diante da flor e seus dois brotos vermelhos, eu permaneci por instantes em silêncio, apenas admirava a beleza. Há dois anos, mudei de apartamento, a sacada do novo apartamento não tem o sol que a flor do deserto se acostumara. Com a pandemia do novo Coronavirus, e a correria do dia a dia, esqueci-me de admirá-la. Ainda assim, percebi que se encontrava sem flores e com um aspecto terminal, apenas a haste se apresentava. No último fim de semana, duas lindas flores (cor rósea) se apresentaram. Fabiola contou: ela estava, desde quando mudamos, aparentando doença, limpei sua haste e troquei de local, passou a receber o sol da manhã, as razões dessa linda floração. Pensei: como tudo na vida, os cuidados são essenciais. Com os cuidados, a beleza se apresenta.